sexta-feira, 23 de março de 2012

Marco Polo e as Ciddes e os Resíduos, em Cidades Invisíveis.

Em meados do livro "As Cidades Invisíveis", de Ítalo Calvino, que se aventura em desenvolver narrativas ficticias de cidades fictícias do império de Kublain Khan, o viajante Maco Pólo em determinado momento já pelos meados do livro é questionado pelo imperador sobre o sentido de narrar coisas em detrimento de outras. É um momento tenso em que o que se discute é a legitimidade dos relatos e sua relevância dada a percepção diferente da que talvez Khan desejasse.


Eis então que o imperador chega a dizer para Pólo que as cidades narradas por ele não existem. De fato, cidades narradas serão sempre diferentes das reais, o que acaba tornando tais cidades inexistentes. Mas, não é isso a que o imperador se refere, e sim a ótica de Pólo que dá destaque a essência das cidades por meio de seus símbolos, nomes, trocas, etc, pois é Pólo sabedor de que cidades narradas são diferentes das reais e assim inexistente, além de outros motivos compreende que a melhor maneira de registrar as cidades era através de buscar sua essência, suas relações.

O Khan diz a Pólo que seu império apodrece como um cadáver no pântano, que contagia corvos e aduba bambus. Era relatos sobre coisas como essas que Khan queria saber. Eis que Marco pólo responde então:

"-Sim, o império está doente e, o que é pior, procura habituar-se às suas doenças. O propósito das minhas explorações é o
seguinte: perscrutando os vestígios de felicidade que ainda se entrevêem, posso medir o grau de penúria. Para descobrir quanta escuridão existe em torno, é preciso concentrar o olhar nas luzes fracas e distantes. (Pág.57 de "Cidades Invisíveis", de Ítalo Calvino)

Depois disso Khan vai falar que seu império é feito da matéria de cristais agregando suas moléculas a um desenho perfeito, e pergunta a Pólo porquê suas impressões de viagem se detêm em aparências ilusórias e não colhem esse processo irredutível.
Marco Pólo então justifica dentro de seu ponto de vista como justamente o essencial para entender cidades:

-"Ao passo que mediante o seu gesto as cidades erguem muralhas perfeitas, eu recolho as cinzas das outras cidades possíveis que desaparecem para ceder-lhe o lugar e que agora não poderão ser nem reconstruídas nem recordadas. Somente conhecendo o resíduo da infelicidade que nenhuma pedra preciosa conseguirá ressarcir é que se pode computar o número exato de quilates que o diamante final deve conter, para não exceder o cálculo do projeto inicial." (Pág.58 de "Cidades Invisíveis", de Ítalo Calvino)

Banda Exodus, Galhos Secos (PARA NOOOOOSSA ALEGRIIIA)

A música eternizada "Para Nossa Alegria" é originalmente da Banda Exodus. Segue aí para quem quiser matar a curiosidade Parraaaa Nosssa Alegriaaa.


Jorge Tonnera Jr.

terça-feira, 20 de março de 2012

Cristãos e o Código Florestal


Dada a situação em que nós vivemos imersos a uma realidade confusa e absurda em que os cristãos brasileiros tem vivido diante de determinadas coisas resolvi escrever.
Faltando apenas alguns meses da Rio +20, evento em que o Rio de Janeiro abrigará delegações de todas as partes do mundo para tratar das questões de meio ambiente 20 anos depois da Rio (ECO)92, quando por ocasião da participação de diversos setores da sociedade civil, incluindo aí os religiosos, poderemos nós cristãos participar com nosso testemunho enquanto primícias da nova criação do Deus vivo. No entanto mesmo diante dessa oportunidade que temos, a bancada "evangélica" busca troca de favores com a bancada ruralista para derrotar o governo quanto a questão da bebida alcóolica da Copa do Mundo. Para que isso ocorra a contra-parte desse favor será a bancada "evangélica" votar a favor da abertura do Código Florestal para que os ruralistas façam o que queiram. É bem possível que se esses evangélicos votarem em massa a favor das mudanças ruralistas dentro do Código Florestal a derrota para a proteção das florestas será quase certa.
Por tudo isso não podemos fechar os olhos diante de um segmento que não nos representa politicamente muito menos religiosamente, que nos constrange e é irrelevante perante a sociedade como um todo, que muitas vezes não passa de departamento burocrático de interesses privados e lucrativos de "igrejas-empresas".
Não se trata de polarizar uma questão tão complexa quanto a do Código Florestal, mas a arbitrariedade e levianismo da dita cuja bancada foge a ética em troca de favores. Essa é a diferença entre políticas públicas e politicagens privadas...
Nojo, muito nojo!!!!! Se eu homem miserável que sou, cheio de pecado, senti um grande nojo, fico imaginando o Senhor Jesus vomitando por causa desses vendilhões. É a lentilha de Jacó na mesa de Esaú!
Temos vivido um tempo de empoderamento religioso que tem criado richas e disputas que afugentam o evangelho daqueles que mais precisam. A cada semana surge uma denúncia quanto aos evangélicos. Está na hora de mexermos as coisas. Nós que cremos no evangelho por inteiro e não um evangelho fragmentado, de prosperidades irrealistas.
Se nós somos a boa notícia do Reino do Cristo vivo de fato o que vamos apresentar de bom para essa nação que sofre injustiças sociais?
A bancada ruralista há bastante tempo têm insinuado que o Código Florestal tem sido impraticável, e acusado de atrasar o país e prejudicar o homem do campo, mas isso não passa de inverdades. Pois que estão usando o Código para carapuça. Estão criando essas visões, mas na realidade o problema é que os mesmos não querem a Reforma Agrágria. Desta maneira querem que acreditemos que o problema da produção de alimentos e dos pequenos agricultores é o Código Florestal, que aliás protege o pequeno agricultor, e esquecemos que precisamos de uma Reforma Agrária. Leiam o artigo que escrevi aqui: "Código Florestal e a agrofloresta, um conceito contra uma Retórica de Sesmarias".  
 
Por conta disso o que podemos fazer? Um envio de uma carta aberta a sociedade, a um jornal ou ao próprio senado? Uma manifestação ? Uma caminhada? Sou favorável as duas últimas opções, mas quantas forem possíveis também. No entanto tenho certeza que sozinho serei irrisório. Na verdade não saberia como reagir sozinho. No entanto na fé e na esperança de que que com 2 ou 3 pessoas Jesus estará e que nós somos uma comunidade, nós somos a comunidade na terra da vontade do céu. Somos o candeeiro que não pode ser aceso embaixo da cama, nem deixado ao vento da janela que leva a cortina a pegar fogo e destruir a casa, sei e creio que poderemos ter atos dignos do verdadeiro evangelho do Reino, o qual os anjos gostariam de proclamar, mas que a nós pertence tão grandiosa missão.
Esses que querem agir como candeeiro embaixo da cama e na janela a destituir e fragmentar a vida querem tacar fogo na casa. E nós? Onde estaremos?! Vamos todos nos juntar e num ato profético em favor da causa socioambiental bater palmas como as árvores de Isaías 55:12: "Pois com alegria saireis, e em paz sereis guiados; os montes e os outeiros romperão em cânticos diante de vós, e todas as árvores de campo baterão palmas".
Bem interessante o fato do texto de Isaías nos falar até de montes quando o Código Florestal procura proteger encostas e cumes de morros...
  Se calármos as pedras clamarão. Ou melhor, já estão gritando...Chegou a hora de cantármos junto com as árvores a entrada do Messias, a grande Árvore da Vida, nesse planeta que geme e aguarda a manifestação dos Filhos de Deus ( Romanos 8: 19 a 22 ).
 
Pelo que foi pendurado num madeiro de uma árvore a derramar seu sangue por nós,
Jorge Tonnera Jr
Biólogo Educador Ambiental, especialista em Gestão Ambiental
Segue abaixo a notícia:

Sábado, 17 de março de 2012

Evangélicos buscam ruralistas para derrotar governo
Contrários à venda de bebidas alcoólicas nos estádios, deputados evangélicos buscam apoio de ruralistas para tentar impor derrotas ao governo no Congresso.

A reportagem é de Maria Clara Cabral e Simone Iglesias e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 17-03-2012.
A ideia é que as duas bancadas, que têm mais de 170 deputados, votem unidas nos principais projetos em discussão na Câmara: Lei Geral da Copa e Código Florestal.
A pedido dos evangélicos, os dois grupos tentarão derrubar o artigo que libera explicitamente a venda de bebidas nas arenas durante a Copa de 2014.
Em acordo firmado com a Fifa em 2007, o país se comprometeu a liberar as cervejas nos jogos.
Em contrapartida, os evangélicos apoiariam os ruralistas e votariam a favor do relatório de Paulo Piau (PMDB-MG) do Código Florestal.
O texto desagrada o governo por ter suprimido trecho que previa o bloqueio do crédito para quem não aderir a programas de regularização ambiental em cinco anos.
"Vamos nos unir para o bem do país", disse o deputado João Campos (PSDB-GO), líder da bancada evangélica no Congresso.
A estratégia de juntar forças foi traçada por Campos e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também evangélico, e levada para Moreira Mendes (PSD-RO), líder ruralista. O deputado diz que a ideia será discutida por sua bancada na próxima segunda-feira.
Além dos dois grupos, outros deputados insatisfeitos na base ameaçam votar contra o governo nesses pontos. Preocupado, o Planalto estuda adiar as votações.
Com a aliança entre as bancadas, a maioria governista não é suficiente para aprovar os projetos com folga.
Se o acordo for concretizado, não será a primeira vez que a bancada evangélica cria problemas para a presidente Dilma Rousseff. Para tentar acalmá-los, Marcelo Crivella (PRB) foi indicado para o Ministério da Pesca.
Evangélicos também causam embaraço ao ameaçar usar o chamado "kit gay" - material anti-homofobia encomendado pelo Ministério da Educação- contra o ex-ministro Fernando Haddad, pré-candidato do PT em SP.
Criticam ainda os ministros Eleonora Menicucci (Políticas para Mulheres), que se posicionou a favor do aborto, e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), que defendeu uma disputa "ideológica" contra a hegemonia evangélica.

quarta-feira, 14 de março de 2012

"Help is on the Way" - Rise Against (A ajuda está a caminho)

Se não me falha a memória foi através desse vídeoclipe que acabei conhecendo a excelente banda Rise Against. Sua videografia é bem interessante, além das músicas fortes. 



A Ajuda Está a Caminho

Eu tenho os sonhos da minha mãe
Eu tenho os olhos do meu pai
Você não pode tirar isso de mim
Vá em frente e tente
A cidade crescente dorme
Enquanto gigantes no céu
Preparam-se para soltarem
Libertarem um grito poderoso
Ninguém pode nos salvar?
Alguém irá tentar?
O afluente está queimando
O cipreste morreu
E o tempo todo digo que

"A ajuda está a caminho"
(Eles disseram, eles disseram)
"A ajuda está a caminho"
(Eles disseram, eles disseram)
Um pela terra, dois pelo mar
Bem ali, na minha frente
A ajuda está a caminho

Cinco mil pés abaixo
Como a fumaça negra engole o céu
O fundo do mar explode
Onze mães choram
Meus ossos ressoal
Uma canção de ninar flamejante
Você não pode tirar isso de mim
Vá em frente e tente
Ela fica na margem
Com as mãos para o céu
Suas palavras perfuram a noite negra
"Alguém se importa?"
E o tempo todo eles dizem

"A ajuda está a caminho"
(Eles disseram, eles disseram)
"A ajuda está a caminho"
(Eles disseram, eles disseram)
Um pela terra, dois pelo mar
Bem ali, na minha frente
A ajuda está a caminho

BEM AQUI! BEM AQUI!
BEM AQUI! BEM AQUI!
BEM AQUI! BEM AQUI!

Engasgando com ouro negro
O qual nós contamos
Mantemos machados nos sótãos
Para ver as câmeras no céu

"A ajuda está a caminho"
(Eles disseram, eles disseram)
"A ajuda está a caminho"
(Eles disseram, eles disseram)
Nos disseram para aguentar firme
Porque em breve, alguém vai chegar
A ajuda está a caminho

Mas ela nunca veio
Nunca veio

"A ajuda está a caminho"
(Eles disseram, eles disseram)
"A ajuda está a caminho"
(Eles disseram, eles disseram)
Um pela terra, dois pelo mar
Bem ali, na minha frente
A ajuda está a caminho

A caminho

domingo, 11 de março de 2012

A ciclista morreu na contramão, atrapalhando o tráfego

03.03.2012 - 10:20


Mais uma ciclista morreu atropelada em São Paulo. Novamente por um ônibus, novamente na via que é o símbolo do progresso, novamente gerando um protesto de pessoas que defendem que a cidade pertença a todos. E, novamente, criando indignação pelo congestionamento que tudo isso trouxe.
Ao ler as manifestações nas redes sociais, senti aquela vergonha básica de ser paulistano que me acomete semanalmente. Muitos já compraram seu ingresso para o show do Chico Buarque, mas não entendem o que ele diz. Talvez se compreendessem o que significa “Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego”, passariam ao largo do músico.
Quem protesta de verdade, tentando mudar as coisas, é taxado de vagabundo, louco, imbecil, retrógrado, egoísta. Por quê? Porque seres civilizados nunca parariam o trânsito. Manifestação bonita é aquela asséptica que nasce e morre na internet e não ganha as ruas. Para estes manifestantes de butique, reclamar tem limites. A partir daí, vira arruaça. Ou pior, subversão.
Coletei exemplos disso ao longo do tempo. Alguns já postei aqui. Como a conversa de duas senhoras em um avião:
- Você viu que morreu uma daquelas sem-terra na rodovia dia desses. Atropelada.
- Também, estava andando no meio da estrada, fazendo protesto. Atrapalhando o trânsito.

Em outro protesto que juntou sindicatos, movimentos populares e estudantis, organizações da sociedade civil. Mais de quatro mil pessoas, de acordo com a polícia, na mesma Paulista:
- Cambada de vagabundos! Vagabundos!
Perguntei o motivo do taxista gritar contra a multidão.
- Porque eles estão atrapalhando o tráfego. Por que não vão arranjar um emprego?
Colocar a democracia em prática em um país como o Brasil é perigoso. Além de poder morrer atropelado, ser xingado e considerado um inútil, você ainda pode ser desalojado e tratado como um marginal.
Tempos atrás, moradores de uma favela próxima ao Real Parque, zona Sul de São Paulo, fecharam as pistas da Marginal Pinheiros para protestar contra a derrubada de suas casas. Seus barracos estavam em um terreno público e a prefeitura resolveu removê-los antes de finalizar negociações. Houve bombas de gás, surras de cacetetes, enfim, aquela corja tinha que entender o seu lugar. Na TV, a repórter bonita fazia cara de reprovação por conta do trânsito que surgiu na Marginal.
“Ah, mas o congestionamento afetou a vida de mais gente, por isso é a notícia mais importante.” O conceito de relevância jornalística se perde em justificativas como essa, desumanizando a situação. Os dois fatos são notícia. Milhões de pessoas conseguiriam se reconhecer nessas histórias se elas fossem retratadas corretamente. E reconhecendo-se, encontrariam no outro, distante, um companheiro para mobilização.
O tráfego, sempre ele, que reina soberano em uma cidade que quer funcionar como um relógio suíço, sem se atrasar. Protestos agendados, marcados, pequenos, ordenados com começo, meio e fim, protestos que não mudam nada, só expiam culpa, são o desejo de muitos paulistanos, cada vez mais embutidos no sistema. Não conseguem perceber que manifestações que fogem disso, que rompem a lógica, é que são reais e têm poder de mudança.
Nós precisamos nos sentir donos da cidade em que vivemos e inverter as prioridades. Às vezes, entender que chegar um pouco mais tarde no compromisso pode significar muito para aqueles que estão batalhando por seus direitos. E que, muitas vezes, você também será o beneficiário da luta deles. Infelizmente, acreditamos que somos ocupantes provisórios. Caso tivéssemos essa necessária sensação de pertencimento, participaríamos realmente da vida da metrópole e das decisões dos seus rumos. Iríamos todos para a rua.
Investir de verdade em transporte público em detrimento ao individual? Com essa quantidade de carros sendo desovada das fábricas em nome do desenvolvimento? Para quê? Para quem?
Mas, afinal, tudo o que estou falando é um grande besteira. A cidade não pertence às pessoas. São Paulo é dos carros. E, em nome deles, matamos e morremos, homenageando através de corpos estendidos no chão nossa insanidade coletiva.
FONTE:
 
 
Meu comentário:
Pior é que é a própria população, ou seja, os oprimidos é quem oprimem os que estão reivindicando algo de bom... eu senti isso de perto quando da bicicletada nacional aqui no RJ contra as mortes dos ciclistas por atropelamento. Mas é aquilo, né. Protesto pra essa gente é fazer pombinha e coraçãozinho com as mãos. Bem higienizadinho. Quem precisa de Herodes quando se é o próprio Poncio Pilatos?
 
 

A oração das nossas necessidades e o consumismo

"Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;
Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; O pão nosso de cada dia nos dá hoje; E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; E não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém." (Mateus 6:9-13)

Todos conhecem a famosa oração do "Pai nosso", usualmente entoada aos domingos, ou em momentos específicos, em igrejas ou em casas. Até quem não é cristão ao menos reconhece algum trecho dessa oração. O que poucos sabem é que ela é a oração das nossas necessidades. Para entender isso devemos também compreender o fato de que Jesus quando está no Sermão do Monte e entoando posteriormente a oração ele está a nos ensinar e incitar os seus seguidores a se comunicarem diretamente com o Pai através do diálogo ele deixa claro um nível de relacionamento íntimo e conhecedor. Há uma conexão, um paralelismo entre essa oração e o sermão do monte. Nessa oração Jesus dá a conhecer Deus e o homem. Jesus deixa claro que o homem é necessitado, tão logo ele se referiu antes no sermão do Monte aos pobres de espírito. E deixa claro que Deus é a maior das necessidades, a necessidade das necessidades humanas. Assim Jesus nos ensina a direcionarmos nossas necessidades ao único que pode nos suprir.
Partindo do pressuposto de que sendo Deus o criador, ele pode nos conformar a nossa realidade com a realidade da vida. Une-se assim a realidade do indivíduo, do próximo, do coletivo/mundo/todo e a de Deus.

Encontramos na oração do "Pai nosso" as principais necessidades humanas. Ele cita o pão como referência básica a manutenção física do indivíduo (alimentação em todos os dias para atender as nossas necessidades biológicas e prazer). Cita também dentro da oração do "Pai nosso" o perdão, enquanto necessário para a mobilidade da vida no sentido de continuidade de relacionamentos. É a necessidade de ter e de dar a "segunda chance", de ter nova chance, haja vista que todos somos falhos, erramos o alvo, não temos a possibilidade de enchergármos completamente todas as realidades, assim sendo somos devedores. Ou seja, temos uma necessidade sociológica, eu diria. Continuando o Mestre cita a resistência , a não ultrapassármos o limite da vida referindo-se a não cair nas tentações. Isso se refere a necessidade psicológica. Isso tudo naturalmente permite o sujeito e o coletivo a ter saúde.  Tem-se aí uma verdadeira ecologia ao entrelaçar os vários níveis de relacionamentos intraespecificos e interespecíficos.


O grande problema é quando pegamos essas necessidades e damos lugar a outras. Substituimos o pão nosso de cada dia pela falsa necessidade de ter muitas vezes bens materiais os quais apenas queremos, mas não precisamos. Não que seja errado termos bens materiais, uma vez eles nos beneficie corretamente, mas fato é que por vezes deixamos de dar atenção as verdadeiras necessidades nossas e do próximo e passamos a dar atenção a coisas desnecessárias. Substituimos a prosperidade por predação, perdão por competição (contra nós e o outro). Muitas vezes isso ocorre por estármos carentes. Carência é algo que está faltando. Carência pode nos encher de coisas...para ocupar o lugar do que está faltando pode nos encher de bens, comida, de atenção, de inveja, de ciúmes e outras coisas. É muito comum ouvirmos que uma pessoa carente de amor come muito, isso ocorre também com os ansiosos, da mesma forma às vezes tais pessoas fumam, se embebedam passando dos limites. Substituimos afeto por alimento, bebida, consumo de bens, sexo, ou qualquer outra coisa que possamos acreditar que suprirá nossa demanda afetiva, e quanto menos afeto mais consumo dessas coisas. Sim, pois passamos a sermos consumidores. Nosso psico às vezes não perdoa e nos leva a cair em tentação e entramos num ciclo de pecado, um ciclo de desprazer, afinal nada disso satisfaz. Desregulamos a matéria e a energia, desregulamos nossos relacionamentos e assim os sistemas econômico, social, ambietal e corporal...No entanto a carência não é um fator determinante. Vejamos o caso de Adão e Eva. Eles não tinham carência.


O fruto do conhecimento do bem e do mal não eram necessidades de Adão e Eva, mas eles o tomaram como tal. Toda vez que fazemos isso tal como eles cometemos o erro do consumismo. Que é ter o que não precisamos.


O Reino de Deus é satisfação, completude. O "reino do eu" é insatisfação, incompletude que tenta se preencher com tudo, tudo o que é nada em si mesmo. Vaidade de vaidades...como diria o Eclesiastes.


Sim! A tentação é a não satisfação. Não satisfação em primeiro lugar de ser quem é (imagem e semelhança de Deus), não satisfação em ter o que se tem, e o não contentamento do por vir ou do não vir a ter.

A tentação é deixarmos de reconhecer nossas reais necessidades e deixar que coisas acessórias se tornam nossas demandas, ou seja, falsas necessidades. É o desejo de ser detentor de meios que nos levem a acreditarmos que somos independentes. Não podemos confundir autonomia com independência... Esse é um erro comum e grave.

Mantermos a mente acima da tentação é um desafio. E acima de tudo isso se cumpre através de amor. Não há o que debater com a falsa necessidade, ou seja, com a tentação. Se fizermos isso vamos acabar achando um caminho, uma desculpa para cairmos na falsa necessidade, na nossa cobiça específica. O "Eu" contra o amor.



O Reino de Deus em nós, que é a vontade plena do Senhor (assim na terra como no céu) nos dá a saber o sentimento de necessidade e dependência de Deus, a saber o que de fato é necessário e que o ponto de satisfação está em amar, expresso em Jesus, e que o Reino não é comida nem bebida, mas paz e justiça e alegria no Espírito Santo." (Romanos 14 : 17). Por isso Jesus diz: "venha o teu Reino", e noutra vez clama: "buscai primeiro o Reino". Essa é a maior demanda e necessidade, pois maior necessidade do que Deus não há.

Ao sermos aceitos em Deus passamos a ter necessidades maiores do que o "eu". Agora sentimos a necessidade de que o próximo tenha paz, e justiça, e alegria no Espírito da vida. Sentimos necessidade de nos doar, pois temos amor de sobra, temos recursos mais que outros a medida que vemos que o nada termos já é muito para quem tem o Deus que satisfaz com a sua paz e o amor. Deus pode suprir-nos o que está em falta, mas sobretudo de amar mais. Deixar de lado o reininho do "Eu" e buscar mais o Reino de Deus é um passo. E se você errar, pois a própria oração confirma que erramos e por isso precisamos de perdoar para ter perdão, não se esqueça que temos um Pai que sabe das nossas necessidades, e que se sua necessidade é realmente acertar ele te dará ajuda necessária para tanto. Como diz Paulo: "O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus" Filipenses 4.19.


Vamos orar? Leia a oração do Pai Nosso e basei-se nela para orar assim como eu fiz abaixo.

"Pai da gente, Santo. Santo é tudo o que é teu, pois Tu és Santo. Assim sendo venha tua vontade plena em nós. Que a começar de um se espalhe para a comunidade. Me ajude a ser esse um vazio que se torna cheio quando somos um contigo, para assim eu ser um com o outro, e assim não olhar somente para minhas necessidades. Perdoa as nossas ofensas, somos devedores uns aos outros , pois não amamos o quanto deveríamos ou até mesmo poderíamos. Não nos deixe buscar satisfação em falsas necessidades, não nos deixe cairmos nesse erro. Da-nos a saber o que tu estás fazendo para completarmos o que estamos fazendo aqui. Nos lembre que somos tua imagem e semelhança. Teu é o Reino e nós os cidadãos, Teu é o poder e nós as ferramentas, Tua é a glória e o nós o espelho dela, sempre. Amém"!!!
 
Jorge Tonnera jr

quinta-feira, 8 de março de 2012

O anúncio da Ressurreição de Jesus, um assunto de mulheres?

Esse texto copiado da fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/507261-o-anuncio-da-ressurreicao-de-jesus-um-assunto-de-mulheres merece ser reproduzido com fidelidade e muito carinho. A mulher tem um papel muito rico na história bíblico, muito embora a presença masculina seja mais nítida e recorrente. Nada disso se trata de concorrer um com o outro, mas cada ser possui uma participação diferenciada. Eu como admirador da mulher em sua capacidade e força bem como da sua estética sei que elas tiveram grande honra e mérito de anunciar além do fato de ser a portadora do ventre santo do Verbo encarnado ao mundo físico também pôde declarar primeiro: O MESTRE RESSUCITOU. ELE ESTÁ VIVO!


O anúncio da Ressurreição de Jesus, um assunto de mulheres?
O Comité de la Jupe (Comitê da Saia), que quer promover um lugar justo para as mulheres na Igreja católica, sugere às paróquias o enriquecimento da liturgia da Páscoa através da redescoberta de um rito antigo, aquele da visita de mulheres ao túmulo na madrugada da Páscoa. Uma maneira de recordar a grande contribuição das mulheres para o anúncio da ressurreição.

A reportagem é de Jean Mercier e publicada no sítio da revista francesa La Vie, 06-03-2012. A tradução é do Cepat.

“E se este ano as mulheres anunciassem a Ressurreição?” O Comité de la Jupe, criado em 2008 para promover um lugar justo das mulheres na Igreja católica, propõe enriquecer a liturgia do Tríduo Pascal através da redescoberta de um rito antigo, aquele da visita ao túmulo na madrugada da manhã da Páscoa. A proposta consiste em convidar as mulheres para se aproximarem do altar no seio da liturgia da Páscoa, a fim de anunciar as frases que, no Evangelho, anunciam a Ressurreição: “a morte foi derrotada, o crucificado ressuscitou!”.

Para o Comitê fundado por
Anne Soupa e Christine Pédotti, trata-se de renovar com a visitatio sepulchri, uma prática medieval em outros tempos abandonada, que consiste em reproduzir os atos e as palavras das “santas mulheres” que foram ao túmulo e que foram as primeiras testemunhas da ressurreição de Cristo...

A cena é representada em muitos ícones ortodoxos, a partir do tema das mulheres “myrrhophores”, que foram até ele para levar pomadas para o embalsamento do corpo de Jesus, e que se encontram com um anjo que lhes anuncia que Cristo ressuscitou. Este rito, que se propagou a partir do século X na Europa, tinha dado origem a “encenações de natureza teatral”, às vezes, resultando em desvios, de sorte que o Concílio de Trento acabou com esta prática.

O Comité da la Jupe quer reintroduzir o rito de maneira mais simples a partir de um intercâmbio falado de grande sobriedade, pedindo um gesto que “não precisa de nenhuma competência específica. Bastam três paroquianas”. O Comitê advertiu contra qualquer “adorno teatral”, e salienta “que é fundamental não tentar construir um espetáculo de tipo narrativo, que pode ser motivo de distração”. Propõe utilizar o espaço litúrgico e centrar o rito sobre o altar, que representa o túmulo de Cristo. Os panos do altar simbolizam os panos que envolveram o corpo de Jesus.

O Comitê sugere que esse rito aconteça na manhã da Páscoa, uma vez que a Vigília do Sábado Santo já é bastante carregada. Esta iniciativa é, segundo o Comitê, “um gesto concreto” para reconhecer “o justo lugar” das mulheres na Igreja. O Comitê lança esta iniciativa em conjunto com a Ação Católica das Mulheres, parceira nesta festa da Páscoa de 2012. O dominicano André Gouzes se associa a esta renovação: “Alegro-me com o fato de que um dos rituais mais antigos da liturgia pascal esteja ganhando vida novamente e que valoriza a parte das mulheres na ação ritual da proclamação da Páscoa. Ao mostrar as riquezas infinitas da nossa liturgia cristã, a partir das suas fontes, pode fazer surgir novidades”.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Jejum de Carbono

Muito interessante quando a igreja é capaz de tornar visível o reino do Cristo. Uma prática tão usual nas igrejas chamado jejum e também dentre os judeus esse comportamento de abrir um espaço do dia ou da semana para deixar de se alimentar cujo significado tem implicações de parar a rotina da necessidade material para olhármos a necessidades outras além de ter um benefício para a saúde contra o câncer, segundo pesquisa recente, quando observado em sua essência podemos usá-lo também dentro de outras realidades. Incentivando a diminuição das emissões de carbono a Tearfund incentiva os cristãos a tornarem o jejum alimentar também para algumas coisas como por exemplo deixar de usar o carro em algum tempo. Taí uma dica. que tal ir de bike?

+ Jejum de carbono

Dos dias 22 de fevereiro a 07 de abril (nos 40 dias que antecedem a Páscoa) a Tearfund Internacional promove o Jejum de Carbono. A campanha consiste em oração e ações diárias que contribuem para a redução da emissão de carbono. Acesse os recursos disponíveis para o Jejum de Carbono (em inglês).

Nós não somos dinamarqueses, Por Denis Russo Burgierman

Nós não somos dinamarqueses

Em 1962, Copenhague, a capital dinamarquesa, foi tomada por uma polêmica. Estava nos jornais:
“Nós não somos italianos”, dizia uma manchete.
“Usar espaços públicos é contrário à mentalidade escandinava”, explicava outra.
O motivo da polêmica:
Um jovem arquiteto chamado Jan Gehl, que tinha conseguido um emprego na prefeitura meses antes, estava colocando suas manguinhas de fora. Gehl, que tinha 26 anos e era recém casado com uma psicóloga, vivia ouvindo dela a seguinte pergunta: “por que vocês arquitetos não se preocupam com as pessoas?”. Gehl resolveu preocupar-se. E teve uma ideia.
Havia em Copenhague uma rua central, no meio da cidade, cheia de casas imponentes e de comércios importantes. Era uma rua que tinha sido o centro da vida na cidade desde que Copenhague surgiu, no século 11 – a rua viva, onde as pessoas se encontravam, onde conversavam, onde os negócios começavam, os casais se conheciam, as crianças brincavam, a vida pública acontecia. Nos anos 1950, os carros chegaram e aos poucos essa rua foi virando um lugar barulhento, fumacento e perigoso. As pessoas já não iam mais lá. Trechos inteiros tinham sido convertidos em lúgrubes estacionamentos.
Pois bem. Aquele jovem arquiteto tinha um plano: fechar a rua para carros.
Copenhague não aceitou facilmente a novidade. Os comerciantes se revoltaram, alegaram que os clientes não conseguiriam chegar. São dessa época as manchetes de jornal citadas no começo do texto. O que os jornais diziam fazia algum sentido: Copenhague não é no Mediterrâneo. Lá faz frio de congelar – o mês de dezembro inteiro oferece um total de 42 horas de luz solar. Ninguém quer andar de bicicleta, ninguém quer caminhar. Deixe meu carro em paz.
Mas o jovem arquiteto ganhou a disputa. Nascia o Strøget, o calçadão de pedestres no meio da cidade que hoje é a maior atração turística de Copenhague. As pessoas adoraram a rua para pedestres desde que ela foi fundada. Na verdade, o comércio da região acabou lucrando muitíssimo mais, porque a área ganhou vida e gente passou a caminhar por lá a todo momento. É até lotado demais hoje em dia.
O arquiteto Gehl caiu nas graças da cidade e continuou colaborando com a prefeitura. Suas ideias foram se aprimorando. Ele descobriu que o ideal não é segregar pedestres de ciclistas de motoristas: é melhor misturá-los. Alguns de seus projetos mais interessantes são ruas mistas, nas quais os motoristas sentem-se vigiados e dirigem com um cuidado monstro. Outra sacada: que essa história de construir ruas para diminuir o trânsito é balela. Quanto mais rua se constrói, mais trânsito aparece. Quanto mais ciclovia, mais gente abandona o carro.
Em grande medida graças às ideias de Gehl, Copenhague é a grande cidade europeia com menos congestionamentos. 36% dos deslocamentos são feitos de bicicleta, mesmo com o clima horrível de lá, e a população tem baixos índices de obesidade e doença cardíaca.

“Copenhaguizar” virou um verbo: significa tornar uma cidade mais agradável à maneira de Copenhague. Jan Gehl abriu um escritório de arquitetura cuja filosofia é “primeiro vem a vida, depois vêm os espaços, depois vêm os prédios”. Ele passou a ser contratado por várias cidades australianas interessadas em “copenhaguização”. Seus projetos revolucionaram Sidney, Perth e Melbourne, tornando seus centros mais divertidos, cheios de cafés, arte e vida, reduzindo carros, atraindo gente para fora de casa. De uns tempos para cá, Gehl, que hoje tem 74 anos, passou a ser procurado pela “big league” das cidades: Londres e Nova York o contrataram como consultor para transformar seus espaços urbanos. Ambas têm feito muito desde então.
Enquanto isso, aqui na minha cidade, se alguém fala em melhorar o espaço público, logo ouve:
“Nós não somos dinamarqueses. Usar espaços públicos é contrário à mentalidade brasileira.”
50 anos atrasado.
Outra frase que se ouve muito aqui:
“Brasileiro adora carro.”
Adora nada, meu filho, presta atenção. Isso é propaganda de posto de gasolina!
Por Denis Russo Burgierman

fonte: http://veja.abril.com.br/blog/denis-russo/cidade/nos-nao-somos-dinamarqueses/
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