domingo, 27 de fevereiro de 2011

Sons da vida e a interação do Deus vivo

 Sons da vida e a interação do Deus vivo

Como seria o mundo sem som? Você já imaginou? Certamente seria muito estranho, monótono, e isso é fácil de imaginar. A grande questão, no entanto, é que a ausência de som indicaria um mundo sem interação, isso porque todos os sons vem de algum tipo de interação, e sem interação não existe mundo...pois o mundo é um conjunto de interações.

Muitas vezes associamos coisas da vida a sons. Por exemplo, no verão lembramos da cigarra, que "canta" um som característico. E o mais interessante é saber que além da beleza e prazer que sentimos ao ouvirmos esse "canto", esse mesmo som é usado para atrair parceiros e, assim, realizar a cópula, e nessa interação entre macho e fêmea surje um novo ser vivo. 

Se formos pensar na realidade da vida vamos encontrar sons em bastante situações. Vários animais, para comunicar algo, emitem sons. Até o meio ambiente físico também emite sons, através da interação de um elemento com outro, por exemplo, o mar produz som com o vai e vem das ondas, o qual é influenciado pela maré - que é a interação gravitacional da lua e do sol (que estão a cerca de 384.405 km e 150 milhões km, respectivamente da Terra) com o nosso planeta, e influenciado pelo relevo oceânico e o vento. Aliás o próprio vento gera som quando em velocidade interage com um meio físico qualquer. Um bebê quando nasce emite logo sinais sonoros, uma forma de comunicar algo, de expressar que está vivo, comunicar vida. Sim a vida é sonora, pois ela é extremamente interativa e o som é uma interação. Todos os fenômenos sonoros estão relacionados às vibrações. Quando escutamos um som é porque um determinado corpo (matéria) está vibrando. O som é resultado de um movimento vibratório da matéria transmitido através de meios materiais e elásticos. É uma energia que se propaga em ondas.Todo nosso organismo é capaz de sentir o movimento destas ondas.





Percebam que o mundo funciona sempre através da interação...
E o que dizer da interação entre partículas que se chocam e formam o corpo, ou seja, a  matéria? Ora, a física quântica nos mostra que na realidade nosso corpo e a matéria toda são um conjunto de partículas vibrando. O que nos causa espanto, pois como somos isso se olhamos para nossa pele e vemos uma organização e de maneira tão fixa? A interação das partículas quânticas, as menores partes do universo, interagem e formam algo visível. A física quântica revela também a constituição do universo. A teoria das cordas soa muito bem ao comparar o universo constituído de cordas como as de um instrumento musical. Ela compara as cordas musicais para representar um objeto unidimensional que vibra, e assim produzindo uma energia, ou uma massa, ou uma carga etc... "produzem" diferentes partículas "fundamentais". Se essa teoria for certa o universo assemelha-se a uma sinfonia, mas a um nível cósmico.

Nós seres humanos somos primordialmente produtos da interação de Deus com o ambiente físico, pois Deus nos formou através da terra e soprou seu Espírito. Não que Deus precisasse interagir, mas assim Ele preferiu, o que mostra um Deus de relação, um Deus que interage e inter-ativo. E assim seguiu a história da vida humana. Deus criou o homem. O corpo humano é uma costura interativa de células, e não tardou para o homem, essa estrutura interativa consciente, fazer música. A música é algo divino. Vejam vocês. O Deus vivo faz tudo movimentar. Até os seres sésseis possuem movimento interno de elementos químicos e biológicos. Pensando na música como algo produzido por movimentos ela nos leva a se movimentar também, até porque a música, ou melhor, o som é movimento. E assim se propaga. O som também movimenta a matéria. Coloque um copo contendo água na frente de uma caixa acústica e você vai ver. Talvez por isso também, além de outras coisas, temos a vontade de embalançar o corpo ao som de uma música. A dança vem dessa reação. Que aliás é um convite à comunhão, pois preferimos dançar juntos. E aí lembra-me Davi, que se despiu e dançou no meio do povo para Deus (II Samuel 6:12-16,20-23). E Deus quando na Terra como Jesus certamente partilhou da comunhão que o som promove. No episódio do casamento (bodas de Caná) lá estava Jesus, o qual animou a festa (Jo 2:1-11) e partilhou da música em sua essência. 

Deus é um promotor de movimento. O Deus vivo, o Deus da Bíblia é um Deus de movimento, nada é estático. As coisas podem parecer estáticas, mas são estacionárias, assim tudo continua interagindo e sendo mantido, conservado...A teoria geral dos sistemas confirma isso.

Os sons audíveis pelo ouvido humano são audíveis somente perto da freqüência entre 20 Hz e 20.000 kHz. Assim também são as conexões da vida (teia da vida), que só vemos ou percebemos em parte, de maneira que não conseguimos ver todas, mas elas existem. E assim como não ouvimos fora daquela frequência, mas sabemos que os sons existem além desta frequência, também podemos dizer que não vemos fisicamente Deus, o que não o torna inexistente ou não participante interativo. Seus sinais estão na natureza e são decodificados por aqueles que possuem sensibilidade suficiente para entender que a complexidade da vida é incrivel e interdependente demais para uma sequência de acasos do acaso, pois que nada funciona sozinho. Não sendo o bastante o próprio Deus se revelou por meio de palavras e transmitidas por profetas. E o próprio Deus se fez profeta em carne e habitou conosco se revelando como Jesus.

A igreja em seu sentido real de ser é uma linda demonstração de interação notória. A igreja é uma soma de partes (membros), mas o todo é maior do que essas partes. É a interação dessas partes que produz o todo, ou seja, produz o corpo, onde Cristo é o cabeça. A igreja interagindo no mundo é um movimento que gera mudanças. De Jerusalém 10 dias depois de Jesus voltar para o Pai, o mundo experimentou uma mudança jamais vista, mudanças promovidas pela interação Espírito do Deus (Espírito de Cristo) com apóstolos, bem como demais discípulos. Vários focos desse mover foram se espalhando, foram chegando a várias partes do mundo, inclusive perfurou e traspassou o Império Romano, que operava pela espada, com o movimento da dominação destrutiva, diferentemente do Cristo vivo, que movimenta pelo amor, e estou hoje aqui, mais de 2.000 anos depois, falando de Jesus e seu Reino, aqui nesse movimento interativo em rede chamado internet.
Nossa vida em nossas atitudes falam mais alto que palavras eloquentes. Que nossa vida seja a caixa acústica do bom Deus.
Então se você preferir ligue um som e curta uma música.


Amém e
Aloha!
jorge tonnera junior

sons da vida, sons de Deus!






quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Há algo maior que a vida?

As vezes não nos damos conta de que buscamos determinadas coisas, prazeres, desejos e objetivos que acabamos os transformando em algo maior que o todo; um algo "mais que a vida". É quando desintegramos a vida sempre que passamos a dar mais valor a tais coisas mais do que elas deveriam ter. É um bem de consumo, uma casa própria, uma faculdade, um casamento, uma viagem, um emprego etc...
Nessa ilusão de ótica perdemos o rumo das ideias e perdemos o sentido dessas mesmas coisas. Quando estas coisas estão desintegradas, ou seja, não estão integradas com a vida como um todo, estas se tornam vazias de sentido. Daí se tornam vaidades. "Vaidade de vaidades, diz o pregador". (Eclesiastes 1) Correr atrás do vento. Daí vem as ansiedades, frustrações e desilusões.
Então Jesus nos adverte: "Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?( Mateus 6:25)

Diante disso podemos nos perguntar:
"É o sexo mais que a vida"?
´"É a faculdade mais que a vida"?
"É a viagem mais que a vida"?
"É a casa própria mais que a vida"?
"É o emprego mais que a vida"?

Quando observármos que estamos dando mais atenção para alguma dessas coisas ou outras, mais do que elas precisam é bom pararmos pra pensar.
Por conta de uma percepção errada nos tornamos ansiosos e perdemos de vista a vida. Perdemos a vida toda vez que cometemos esse erro...toda vez que a decompomos em pedaços e damos mais atenção/valor a algum deles. Assim vamos deixando rastros de vida e nossa vida se torna incompleta.


pensando na vida, e com o pensamento de que maior que a vida só mesmo aquele que a nos deus: Jesus, o Cristo.
jorge tonnera jr

"Buscai primeiro o Reino de Deus e tudo mais vos será acrescentado". (Mt 6,24-34)
“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14:17)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Morte de Abelhas, o que você tem a ver com isso. Reflexão pastoral aprendendo com abelhas.

Semanas atrás saiu a seguinte notícia que encontrei via site Ambientebrasil. 
08 / 02 / 2011 - Sumiço de abelhas intriga apicultores em Santa Catarina.
Animais simplesmente abandonam colmeias por motivo desconhecido. Fenômeno pode afetar produção de mel e também de maçãs no estado. Ainda nessa mesma semana veio a notícia que o Museu Real de Ontário investiga morte misteriosa de 20 mil abelhas
Insetos morreram em dois dias, sem causa aparente.

Não se tratam de notícias que simplesmente são novas. Esse fenômeno tem ocorrido já há alguns anos em várias partes do mundo e tem sido divulgado por vezes. As possíveis causas já foram associadas a radiações de rede de transmissão de telefones celulares a contaminação por transgênicos, sendo esta última a hipótese a falada. A diminuição alimentícia, menor variedade de alimentos, também é atribuido como possível causa, o que traz vírus e fungos oportunistas. Além disso agrotóxicos também são elementos que entram no organismo desses animais pequeninos. É possível também que a soma desses fatores esteja interagindo com as abelhas.


O caso é que o homem tem interferido de maneira virtualmente complexa no meio ambiente e na natureza dos seres vivos, incluindo a dele mesmo, pois estamos dentro dos sistemas ecológicos e somos parte deles, assim, tudo o que fazemos pode afetar de maneira positiva ou negativa direta ou indiretamente, e diante de tanto fluxo de ações sempre há reações. Estamos interagindo com sistemas dos quais sabemos pouco.
As abelhas são responsáveis pela polinização de grande quantidade da produção da agricultura em todo o planeta. Você pode imaginar o que esses incidentes de sumiço de abelhas significa. Albert Einstein disse certa vez que se as abelhas fossem extintas da face da Terra em apenas 4 anos a humanidade sumiria. Isso porque as abelhas são responsáveis por 1/3 da comida do planeta. Assim sendo, imagine que diminuindo a produção de alimentos diminui a oferta de alimento aumento o preço dos alimentos e produtos derivados. Daí pra frente você imagina as próximas consequencias...
Numa perspectiva de 18 anos as populações de abelhas serão bastante reduzidas. Estão tentando fazer polinização artificial, mas isso não se compara a engenhosidade da interação natural do corpo da abelha com as várias plantas.

Os animais têm sempre opções disponíveis para eles. Quando o ser humano interfere no sistema ecológico desses animais tais opções vão acompanhando as mudanças e se encaixam no que é melhor e mais viável até o limite onde já não se pode escolher o que comer. Os seres humanos também "escolhem" através de opções. No entanto o “comportamento determinístico” do homem em relação a produção de alimentos está agredindo a biodiversidade. Não por conta de variedade de opções, mas da pouca variação de modo de produção. A idéia de que podemos escolher nossos alimentos através de uma vasta quantidade de opções é relativamente nova e está atualmente associado ao paradigma da agricultura predatória. Tal qual as abelhas escolher seu alimento é uma propriedade biológica. Nós também podemos escolher a nossa, porém que seja de forma sustentável. Podemos escolher a forma que se produz essa comida. A nossa comida está interligada a comida delas (as abelhas). Nada nessa vida, nesse mundo de meu Deus é separado.
A matemática da vida funciona por meio de equações em que um lado deve estar em harmonia com o outro.
O que funciona melhor para a vida funcionar?
De quais maneiras podemos interferir e rearranjar elementos ministradores de vida? Qual o conceito de vida? 
 Seria bom se fossemos sensiveis o bastante para pensarmos nesse tipo de pergunta...


Vale a pena conferir um caso de 2010 também aqui no Brasil interessante de tomar conhecimento sobre morte de abelhas está no link abaixo:
http://rejanetapuya.blogspot.com/2010/12/abelhas-mortas-em-iacanga-foram.html
Compartilho aqui também  aproveitando a oportunidade de reflexão a respeito desse fenômeno incomum um vídeo do Reverendo Caio fábio que dialóga a partir desses incidentes de morte de abelhas. Muito interessante e como sempre inteligente a forma que ele aborda. Ele fala, por exemplo de um vírus encontrado em abelha examinada que era parecido com um vírus da AIDS.

Fico por aqui. Mas antes vale lembrar que
O caminho das criaturas é o nosso também. Nós temos um destino comum, tudo é ligado na terra. Não há um ser que seja independente, desnecessário, sem importância, sem elo, sem história, sem ligação com a vida do todo. O rastro de destruição humana é longo. Os animais e as plantas serão nossas testemunhas.
Sem mel só há fel!    Jorge Tonnera Jr.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Megalópolis e A Cidade somos nós

Aproveitando as férias fui visitar umas exposições: Megalópolis, Cidades somos nós, Cora Coralina, Escher...
 

Megalópolis

Sob diversas formas e em diversos ângulos, cada imagem uma sensação. Uma tensão onde não se vê saída, tudo é tão junto que sufoca. Apesar de as peças estarem expostas nas paredes, de forma que temos a ideía de vista aérea ou mapeada, se olharmos em outros ângulos temos uma impressão complementar. Mas naturalmente é a vista de cima que provoca.
Onde o lugar não tem lugar, conforme a proposta do artista, é um meio ambiente sem vida, sem espaços para habitar, sem água.

Essa exposição alerta para a realidade que estamos construindo sem limites. O ser humano em sua antropofágica ocupação no planeta. Todo o trabalho é em peças de madeira.

Lembra bem coisas cinematográficas como a cybertron do filme "Transformers"  ou aquelas cidades em Star wars. Mas uma das imagens que me vieram a mente e acho bem marcante é referente à peça que me lembra muito o Rio de Janeiro visto de cima dentro de um avião (Antes de chegar ao aeroporto)...o Rio de Janeiro do alto é estranho...homogêneo e muito junto com pouco ou quase nenhuma árvore, em determinados lugares. Uma sensação estranha de prisão. Me lembrou também de qualquer cidade grande vista de noite do alto ao chegar de avião. Um visão estranha, mista de espanto, artificialidade, feiura e beleza.
Essa exposição se encontra no Centro Cultural dos Correios-RJ no centro da cidade.

Uma literatura que vale a pena e que tem a ver com essa exposição é "Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, famosa obra, e "Planeta Favela", de Mike Davis.






 Cidade de São Paulo numa foto em que mostra a pobreza e a riqueza lado a lado.



"A cidade somos nós"

Ainda no Centro Cultural dos Correios-RJ, uma exposição interessante e que propõe a valorização da mobilidade é "A Cidade somos nós", expõe cidades de vários lugares do mundo e projetos para melhoria da mobilidade. Um problema comum a estes lugares é o fato de que o carro tomou o lugar das pessoas. A mostra valoriza o transporte de bicicleta, o que é uma saída interessante, que une o útil ao agradável, particularmente numa cidade como a do Rio de Janeiro. Abaixo a nota que saiu no Globo extraído do site do evento: http://ascidadessomosnos.org/ quanto ao uso de bicicletas para entregas à domicílio no bairro de copacabana que coloca como um serviço que acaba ajudando o bairro em termos de sustentabilidade.                                    
Clique na imagem para ler.
 

Discordo apenas do título, pois para ser sustentável um bairro precisa mais do que bicicletas. O uso de bicicletas em copacabana foi a saída ao trânsito caótico do bairro. Mas é muito interessante o estudo.
Acidade sendo projetada em função da vida, particularmente do ser humano, e não do carro é uma ruptura do paradigma contemporâneo.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A Ecologia do Descanso

Uma boa tarde a todos. Andei sumido, pois estava de preparo para férias e numa viagem de três dias. Estarei de férias até depois do carnaval... Este é meu mês shabático. Gostaria de compartilhar esse princípio de vida, contracultural e promotor de vida.

 A ecologia do descanso

A Biblia nos fala de dias de descanso. O shabat, que
é o sétimo dia, depois de 6 dias de trabalho (Levítico 23:3), um dia para
descansar na semana; o ano Shemitá ou Ano Sabático (Levítico 25:4), que era o sétimo ano do ciclo de sete anos de cultivo, em que o trabalho de cultivo cessava e os pobres tinham suas dívidas perdoadas e os bens restituídos. Assim sendo, era tempo da
terra se recompor de nutrientes, algo que a ciência mais tarde iria nos
falar, e era tempo de promover justiça social, além de implicações mentais
e físicas por conta de descansar de todo um trabalho. Também é
relatado no Antigo Testamento o Jubileu da terra (Levítico 25:11), que era
como o Ano Sabático, mas a cada 50 anos. Além disso é citado os dias de festas em que
havia descanso solene. (Levítico 23)
Reconhecemos assim a cessação e o descansar como um princípio bíblico.
O Shabat é o dia de cessação do trabalho, o descanso é impícito.
Descansar não significa não fazer nada. Descansar é o tempo de admirar, de servir, de sentir, de chorar, de rir, de fazer outra coisa, de criar ou até mesmo de destruir, nesse último caso podemos destruir o sistema que nos oprime com a correria do tempo e da
não cessação das coisas.

Perdemos as coisas de vista quando não paramos. Certa vez eu li, acho que num trabalho de conclusão de curso que o excesso de trabalho nos empobrece. Isso é bem óbvio, pois como continuar a usufruir sem tempo de renovação? Isso é o que os ecologistas sempre pregaram, mas é algo milenar, uma necessidade bem anterior a conscientização ecológica a partir do ecologismo. Esse tempo para renovar a que me refiro é o shabat. tudo o que fazemos em demasia esgota e até mesmo nós nos esgotamos e acabamos cansados e cansando o planeta. O tempo de recomposição do planeta está atrasado. Isso é
implicação do custo de não cessar a produtividade. Daí nós temos o desperdício. Para algumas pessoas descanso é desperdício, pois "tempo é dinheiro", dizem baseado no ditado popular. No entanto o não descansar já é desperdício.  Descobri que em hebraico bíblico o conceito de desperdício é destruição (tashcit). O despedício é falência da proposta
civilizatória de que nos incumbimos. Melhor nada fazer que transformar algo em nada, diz o Rabino Nilton BONDER.
O Shabat ao nos indicar a necessidade de cessação nos diz que não somos donos da natureza. “Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam.”(Salmos 24:1).  O princípio mais sensível e sensibilizador das leis bíblicas referentes às
relações ecológicas talvez seja o Shabat, pois nele renunciamos o nosso poder sobre a natureza. É também um sinal de humildade se pensármos que nós nos humilhamos diante do fato de que precisamos de repouso, férias e descanso, e assim informamos ao mundo que não temos o poder sobre a vida verdadeiramente e que somos limitados e somos sustentados pelo Senhor e que só Ele, o Deus vivo, pode nos encher de vitalidade, só Ele é o Criador, e proclamamos que paramos porque nossa vida não é infinita, assim como também não é infinito o planeta e seu meio ambiente criado por Javé, o vivente,
mas como tudo na natureza é cíclico e flui é preciso respeitar esses ciclos e o fluir das energias, andar nesse ritmo, por isso também cultivar e GUARDAR.

A vida, por meio dos sistemas complexos ecológicos exige a descontinuidade e a renovação.  A pausa e o desacnso está em vários momentos da vida: é o dormir, o pós almoço (quando o corpo sente uma moleza), a hibernação de alguns animais, a dormência de algumas sementes e plantas, o inverno é descanso, para alguns seres a noite é descanso, para outros o dia é descanso, e até a morte é cessação, o que permite a continuidade da vida num sistema finito.
Há um estudo que sugere que paremos um dia da semana e com isso o planeta teria um grande ganho ecológico, diminuiria a poluição e daria mais tempo de ecossistemas se reporem. Isso seria incrível. No entanto, como sempre, o que já se sabia por meio da Bíblia a ciência moderna apenas veio a dizer o mesmo de outra forma muitos anos depois. Os moradores da terra que não descansa sofrem as consequências (Levíticos 26.32-35). Isso é óbvio! A natureza não pode aguentar tanta pressão por tanto tempo. Numa sociedade em
que não cessa atividades rotineiras isso pode soar como utópico. Mas a verdade é que descansar e parar não é privilégio, mas necessidade de permanência, ou seja, isso é questão de sustentabilidade. O shabat é um princípio de sustentabilidade.

O Shabat foi dado e criado pelo Deus da Bíblia. Assim, a observância ao Shabat constitue um testemunho devoto a isso, proclamando que Deus criou tudo e o shabat testifica isso, pois cessamos para a continuidade desse tudo, essa criação que depende da maneira que a tratamos, a maneira que a "cultivamos" (Gênesis 2:15 e Gênesis 3:23). O homem foi colocado no jardim para cultivar e guardar. Guardamos também quando paramos. O shabat é uma guarda. Muito mais importante que guardar o sábado é o sentido de guarda, por isso Jesus disse: "O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado."(Marcos 2:27) Aliás o primeiro dia após a criação do homem foi um dia de descanso (Genesis 1:27 a Gênesis 2:2). 
 

 Devemos santificar nossa cessação, devemos santificar nosso repouso. Ele é uma demonstração da vida que Deus propõe ao homem. O shabat nos distingue. "Guardarão, pois, o sábado os filhos de Israel, celebrando-o nas suas gerações por aliança perpétua. (Êxodo 31:16)  "e Tu, pois, fala aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis meus sábados; porquanto isso é um sinal entre mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que eu sou o SENHOR, que vos santifica." (Êxodo 31:13) Os que o tem como princípio prezam a vida e rejeitam a cultura da morte. O primeiro presente de Deus para aqueles que saíram do jugo da escravidão do Egito depois da liberdade foi um dia de descanso (Levítico 25:2). Também, na época do exílio em Babilônia, o shabat contradizia a opressão e a exploração dos caudeus sobre o povo judeu.

Um período sabático é necessário e não tê-lo pode ser fatal. Em alguns lugares do mundo as empresas concedem um período de afastamento de meses a 1 ano ao empregado. No Brasil, país em que os empresários não se importam muito com os funcionários, corroborado pelo falso mito de que brasileiro é preguiçoso, e encontramos facilmente expressões do tipo "carioca, baiano e índios são preguiçosos", é dificil encontrar empresa que permita um período shabático, pois os empresários gananciosos e capitalistas não gostam de ver o povo descansar.

Jesus Cristo descansou.(Mateus 5:17-18) Jesus enquanto judeu se submeteu à lei judaica de Deus. Isso é maravilhoso, pois sendo ele quem era não usou-se de ser Deus (Filipenses 2:6-7) e não desprezou a criação por ser superior a ela e a condição humana.
Na verdade vemos aí o Deus que cultiva vida na vida. Deus em Cristo nos deu uma genuína prova de espiritualidade, o repouso. 

Corpo e mente são unos. Viver sem parar esgota, consome demais e é consumido por si mesmo e pelo que está ao seu redor. Aquele que não se dá direito ao descanso como pode viver? Afinal o próprio Deus descansou e nos dá descanso. Jesus nos diz que devemos descansar nele (Mateus 11.28-30). Aquele que não se dá descanso como pode dizer que está em Cristo? Pois foi Jesus que disse que acharíamos descanso nele. E sem descanso não aguentamos a vida, sem descanso o corpo, que é templo do Espírito Santo padece
e adoece, e a mente, que nos permite a racionalidade fica desfocada, e como
pensar com a mente de Cristo (I Coríntios 2:16) sem o descanso? A pessoa que não descansa pede férias sempre. Perde-se e não consegue se achar. E em determinado momento já não se sabe mais se se está cansado do cansaço, se está cansada pelo cansaço, se a vida está cansada ou se está cansado da vida.
Cansaço des-naturaliza, des-regula, des-motiva, des-orienta, des-romancia e assim há um desencantamento do mundo. Então, vem a desordem do pensar, e o processo de egoísmo passa a trabalhar. A busca por algo pra si, a busca de sentido, a busca por "n" coisas pra si, esquecendo o outro, o próximo, Deus, e a natureza em sua volta e em seu próprio corpo. Daí as doenças mentais geram perigo maior a tudo ao redor e a si mesmo. 


O que vemos todos os dias?
Há excesso de luzes, excessos de sonoridade, excesso de rejeitos e lixo, pois não se para de produzir, assim o meio ambiente como um todo vai sendo consumido sem descanso, ou melhor, sem cessação, assim como o próprio ser humano, que não se aguenta, não segura a barra da existencialidade, daí fragmentações conjugais e familiares, estress e violências, revoltas, se tornam seres inadequados e acríticos e que apenas buscam e lutam para
conquistar uma vida "tranqüila", cujo àpice é o sucesso, e cujo símbolo são as mansões e o lifestyle dos milionários.
Como se vê a ecologia é integral, abrange a psicologia, a biologia e a sociologia, bem como a espiritualidade.

Vale apenas dizer que em Cristo não há mais a "Lei", ou seja, o shabat como
o 4º mandamento se extingue, o que fica pra nós é o princípio do descanso e como em Cristo tudo se cumpre, andarmos com ele nos leva a vivermos uma vida que implicitamente respeita os limites da vida e a permanência e perpetuação da vida sobre a morte.

O Deus vivo nos chama a descansar. Ele te convida. Você aceita? Não
descansar não passa de vaidade. Vaidade de vaidade...

Na Bíblia, descansar é sinônimo de conservar e de cultuar, adorar ao Deus
vivo que supre a existência da vida como um todo.
Há muito do que falar e refletir sobre o shabat, ao longo da história do povo judeu esse "cessar" mas por hora fico por aqui...

Em Jesus meu descanso eterno,
Jorge Tonnera jr. (De férias)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Clima, inflação e revolta no Egito: assuntos conectados (Miriam Leitão)

Dêem uma lida nesse texto de Miriam Leitão. Excelente associação. Vivemos num mundo interconectado.
O texto copiei do link que ela postou no twitter dela.
 

 Clima, inflação e revolta no Egito: assuntos conectados

O preço dos alimentos está ficando cada vez mais caro. Com o ciclone violento, Yasi, que está chegando à Austrália, grande produtor, e na Nova Zelândia, a região está se preparando para uma catástrofe. Esses eventos climáticos extremos estão pressionando o aumento dos alimentos, que bate no bolso dos consumidores.

Se afeta o Brasil, que é grande produtor, imagine isso para o Egito, que importa a maior parte. Numa família egípcia de classe média, o peso dos alimentos no orçamento é 40%. Isso é um dos detonadores dessa revolta, não o único. Outro motivo, mais forte até, é o fato de o desemprego entre os jovens ser altíssimo.

Como se vê, os assuntos estão conectados: um ciclone na Austrália, uma crise no Egito e o nosso bolso também.

http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2011/02/02/clima-inflacao-revolta-no-egito-assuntos-conectados-360668.asp

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O Deus ecológico e a Ecologia, a ciência das relações

Ecologia significa literalmente o "estudo da casa" (Eco=casa + logia=estudo).
Ao contrário do que muitos pensam a ecologia não trata diretamente de problemas ambientais, mas sim de relações. O nível mais básico da ecologia é a relação. O mais alto é o ecossistema, que é um grande conjunto de relações. Entender e estudar a "casa" requer estudar e entender as relações entre os participantes dessa, uns com os outros e com as estruturas da casa em si. Assim sendo, quando eu me relaciono com um vizinho isso é ecologia, tal como quando uma anêmona se relaciona com um paguro gerando uma cooperação. Tal qual também quando eu ou outra espécie viva consome água, ou a forma que produzimos e geramos sustento, e a forma que me relaciono com Deus também é ecologia, pois estamos nos relacionando com aquele que tudo provê e sustenta e é o criador desta "casa", e através dele partem todas as relações.
A própria idéia de Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) já se mostra dentro da lógica das relações, embora não me adentrarei a isso, pois é algo dificil de entender e explicar. A Trindade é um mistério revelado, mas, não conceituado.
Ecologia estuda a casa (literalmente), e a Bíblia menciona que Deus tem o homem como casa (1 Co 3.16, 17). A casa é o meio mais íntimo, dessa forma deveríamos olhar para o nosso planeta, enquanto casa que é, de uma maneira bem mais íntima e próxima. Deus é o Deus dos tabernáculos (casas), vemos ele presente em tendas e vindo se não me engano derramando seu Espírito aos discípulos quando eles estavam em uma casa. Diz ainda a Bíblia que nosso corpo é Templo (casa) do Espírito Santo. Diz que é o Espírito de Deus o vivificador, aquele que mantém a vida, o fôlego, os sistemas humanos funcionando em harmonia, as milhares de moléculas agitadas formando organização incrível e funcional.
Pois que de fato quando entendemos o Antigo Testamento a Luz do Novo Testamento vemos que os símbolos e aspectos religiosos simbolizam Jesus, nesse caso o próprio grande Templo de Jerusalém simbolizava Jesus, e creio que simbolizava a profecia sobre o Espírito Santo habitar no homem, pois que Paulo muito diz de uma forma emocionante de arrepiar os pêlos do braço, que o Deus que tudo fez não habita em santuários feitos por mãos humanas como se de alguma coisa precisasse, pois tudo ele fez e é Ele que sustenta(At 17.16-31). Ele habita nós, embora na realidade nós é quem habitamos nele.

Ao não perceber a profundidade das coisas de Deus acabamos não se aprofundando na ecologia. Há princípios ecológicos explícitos e implícitos na Bíblia, tanto no Antigo e Novo Testamento. No entanto, o mais importante do que encontramos na Bíblia é que tudo parte das relações, ou melhor, o que Deus está tratando é das relações, e por isso mesmo o ponto de restauração é a relação. Deus age a partir da relação mais básica de todas: a relação Deus e homem, ou em outra palavra Pai e filho, a qual Jesus simbolizou muito bem. Aliás, Jesus enquanto Deus desprovido de tudo é Deus vindo ao mundo, se relaciona da maneira mais natural. Ele vem como bebê, "nascendo" de parto, como um homem de terra assim como nós (viemos do barro) e sendo um homem da terra (mundo agrário de Israel), e se apresentando como Filho do homem, que numa linguagem mais etiológica significa "Filho da terra" (pois homem vem de  Adão, cujo nome vem de Adamah, que quer dizer terra), e vem comendo, trabalhando e bebendo (à samaritana do poço ele se apresenta como sendo água, pois esta é mantenedora de ser vivo).
Assim como o que se estuda em ecologia são as relações, Deus age nas relações. Primeiramente age reatando o relacionamento pessoal, o indíviduo com Deus. Depois a partir daí todos os relacionamentos possíveis são potencialmente possíveis, cabendo a partir daí o homem com a presença e participação de Deus, agir para viver novos relacionamentos, ou melhor renová-los, seja familiarmente, socialmente, ambientalmente, econômicamente, ou seja, ecologicamente (pois ecologia envolve todos esses aspectos).
O padrão de ser que Deus ensina é uma forma de vida que é benéfica em todos os aspectos, leva em consideração a tudo, e que quando há o desvio disso surge aí o que se chama pecado. Nos livros bíblicos dos profetas Oséias e Joel vê-se que a conduta humana em relação a Deus influencia a natureza ao seu redor, onde as ações pecaminosas geram efeitos degradantes a si mesmo e ao que está a volta, pois como estamos todos conectados nessa teia de relações muitos acabam sendo afetados. Por exemplo, o roubo é gerado pela cobiça, que é insaciável se for permitida e fazendo com que o homem queira sempre mais e pra conseguir ele vai usar de todos os meios possíveis, desde assaltar alguém ou destruir uma área de floresta para conseguir mais dinheiro, ou deixar de ter controle da poluição da sua empresa para não gastar dinheiro. Assim como na ecologia se estuda sistemas, há uma coisa chamada de retroalimentação ou feedback, que "é o nome dado ao procedimento através do qual parte do sinal de saída de um sistema (ou circuito) é transferida para a entrada deste mesmo sistema, com o objetivo de diminuir, amplificar ou controlar a saída do sistema". Nesse exemplo do roubo há um fluxo retroalimentado de resposta (feedbeck) "ao retorno de informações do efeito para a causa de um fenômeno, uma saída que transforma-se em entrada, ou seja, o ladrão por cobiça acaba roubando novamente para manter sua cobiça viva.
É interessante como Deus age de maneira ecológica. Deus emerge o homem dentro de um jardim. Fico imaginando como seria esse jardim, mas acho que nenhum jardim ou conceito paisagístico ecológico poderia  como nos mostrar essa realidade. Depois de expulsos de lá o homem e sua mulher geram família e daí o grau de relacionamento vai se expandindo, começam a formar povos e povoados, cidades e nações. É a história de relacionamento de pessoas com Deus em um planeta. A permissividade humana e a falta de amor a Deus gera toda uma história de confusão societária numa dialética retórica de opressão onde ora somos oprimidos ora opressores, sistemas imorais em todos os sentidos cujo nível máximo se chamou de império, consumindo os seres humanos e as demais criaturas, bem como o meio ambiente.

A crise humana é uma crise ecológica a medida que o Deus que criou tudo a partir de sua palavra gerando relações, desde a interação entre átomos até a interação ecossistêmica, habitava contigo já não habita mais, e por isso mesmo é expressão de uma crise espiritual, ou seja, não há possibilidade de separármos a ecologia da espiritualidade. É uma coisa só. Conseqüência de uma crise profunda o homem sem Deus tornou-se desumano, dessacralizou a si mesmo e a criação (os elementos físicos, os seres, as relações), e assim o todo. Pensou ser independente, o que por si só acaba sendo uma ironia, já que o nível mais básico de vida é a relação, seja com a terra ou com o vizinho ou com Deus, ou seja, somos sempre interdependentes. Mas através de Jesus somos destituidos de "senhor absoluto" de tudo e voltamos ao nosso devido lugar de cooperador do Deus vivo tal como outros seres vivos e nos reconhecemos bem como compreender o mundo quando tem um relacionamento reatado com Deus. Somente re-descobrindo o Deus da Vida por meio da vida de Deus(Jesus Cristo), experienciando a Vida de Deus (os ensinos de Cristo Jesus), será possível uma verdadeira transformação da situação desta grande crise. Do indivíduo ao mundo, mais ou menos como Jesus ilustrou o Reino dos céus como mostarda de semente que cresce e se torna uma planta ilustre e grande. De dentro pra fora. Infelizmente o homem acha que mudando o entorno o homem se tornará muito bom. Erro que não podemos aceitar.

No caminhar após a queda e na vida desértica dos povos nômades representado pelos patriarcas, a criação de uma nação, ao estabelecimento de uma terra prometida para se viver, instruindo como se viver nesta terra (Levítico), os valores humanos, psicológicos, éticos, biológicos, culturais são confrontados. Assim a arte pedagógica do Deus da vida é a própria vida e suas relações com os viventes.

Assim Jesus e os profetas falam de cooperação, buscam a comunhão, da mesma forma a orto-práxis da Igreja enquanto linguagem construtiva de Deus, assim a  integridade e a integralidade no todo. Não somos simplesmente partes, mas somos pertencentes a Deus, formador do todo, na unidade da Trindade (Pai, Filho, Espírito Santo -  Planejador, Criador, Vivificador) realizando uma comunidade de vida e a vida como comunidade.

A ecologia ocupa-se desde o estudo do indivíduo,  o estudo entre indivíduos, os indivíduos com o ambiente físico, e o complexo dessa interação biosférica, até mesmo a dinâmica cósmica,  já que a interação entre as forças físicas influenciam na Terra (maré, por exemplo).
Precisamos reconher esse Deus invisível assim como não vemos as relações, mas existimos entre elas. 
O que falta é reconhecermos Deus como a relação imprescindível e fundamental para todas as outras. A medida que Ele nos renova, tudo a nossa volta é impactado. Há um avivamento social, cultural, econômico, enfim ecológico.

..."a vida estava com Deus e a vida era Deus" (João 1:1).

Pensando e estudando a vida através da ecologia e a educação ambiental por meio da Bíblia experimento o nosso viver no dia a dia.
Jesus reata nossa relação com Deus. Somente Ele e ninguém mais.
Aloha!!!! Shalom !!! AMém!!!

jorge tonnera jr.
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