domingo, 11 de março de 2012

A oração das nossas necessidades e o consumismo

"Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;
Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; O pão nosso de cada dia nos dá hoje; E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; E não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém." (Mateus 6:9-13)

Todos conhecem a famosa oração do "Pai nosso", usualmente entoada aos domingos, ou em momentos específicos, em igrejas ou em casas. Até quem não é cristão ao menos reconhece algum trecho dessa oração. O que poucos sabem é que ela é a oração das nossas necessidades. Para entender isso devemos também compreender o fato de que Jesus quando está no Sermão do Monte e entoando posteriormente a oração ele está a nos ensinar e incitar os seus seguidores a se comunicarem diretamente com o Pai através do diálogo ele deixa claro um nível de relacionamento íntimo e conhecedor. Há uma conexão, um paralelismo entre essa oração e o sermão do monte. Nessa oração Jesus dá a conhecer Deus e o homem. Jesus deixa claro que o homem é necessitado, tão logo ele se referiu antes no sermão do Monte aos pobres de espírito. E deixa claro que Deus é a maior das necessidades, a necessidade das necessidades humanas. Assim Jesus nos ensina a direcionarmos nossas necessidades ao único que pode nos suprir.
Partindo do pressuposto de que sendo Deus o criador, ele pode nos conformar a nossa realidade com a realidade da vida. Une-se assim a realidade do indivíduo, do próximo, do coletivo/mundo/todo e a de Deus.

Encontramos na oração do "Pai nosso" as principais necessidades humanas. Ele cita o pão como referência básica a manutenção física do indivíduo (alimentação em todos os dias para atender as nossas necessidades biológicas e prazer). Cita também dentro da oração do "Pai nosso" o perdão, enquanto necessário para a mobilidade da vida no sentido de continuidade de relacionamentos. É a necessidade de ter e de dar a "segunda chance", de ter nova chance, haja vista que todos somos falhos, erramos o alvo, não temos a possibilidade de enchergármos completamente todas as realidades, assim sendo somos devedores. Ou seja, temos uma necessidade sociológica, eu diria. Continuando o Mestre cita a resistência , a não ultrapassármos o limite da vida referindo-se a não cair nas tentações. Isso se refere a necessidade psicológica. Isso tudo naturalmente permite o sujeito e o coletivo a ter saúde.  Tem-se aí uma verdadeira ecologia ao entrelaçar os vários níveis de relacionamentos intraespecificos e interespecíficos.


O grande problema é quando pegamos essas necessidades e damos lugar a outras. Substituimos o pão nosso de cada dia pela falsa necessidade de ter muitas vezes bens materiais os quais apenas queremos, mas não precisamos. Não que seja errado termos bens materiais, uma vez eles nos beneficie corretamente, mas fato é que por vezes deixamos de dar atenção as verdadeiras necessidades nossas e do próximo e passamos a dar atenção a coisas desnecessárias. Substituimos a prosperidade por predação, perdão por competição (contra nós e o outro). Muitas vezes isso ocorre por estármos carentes. Carência é algo que está faltando. Carência pode nos encher de coisas...para ocupar o lugar do que está faltando pode nos encher de bens, comida, de atenção, de inveja, de ciúmes e outras coisas. É muito comum ouvirmos que uma pessoa carente de amor come muito, isso ocorre também com os ansiosos, da mesma forma às vezes tais pessoas fumam, se embebedam passando dos limites. Substituimos afeto por alimento, bebida, consumo de bens, sexo, ou qualquer outra coisa que possamos acreditar que suprirá nossa demanda afetiva, e quanto menos afeto mais consumo dessas coisas. Sim, pois passamos a sermos consumidores. Nosso psico às vezes não perdoa e nos leva a cair em tentação e entramos num ciclo de pecado, um ciclo de desprazer, afinal nada disso satisfaz. Desregulamos a matéria e a energia, desregulamos nossos relacionamentos e assim os sistemas econômico, social, ambietal e corporal...No entanto a carência não é um fator determinante. Vejamos o caso de Adão e Eva. Eles não tinham carência.


O fruto do conhecimento do bem e do mal não eram necessidades de Adão e Eva, mas eles o tomaram como tal. Toda vez que fazemos isso tal como eles cometemos o erro do consumismo. Que é ter o que não precisamos.


O Reino de Deus é satisfação, completude. O "reino do eu" é insatisfação, incompletude que tenta se preencher com tudo, tudo o que é nada em si mesmo. Vaidade de vaidades...como diria o Eclesiastes.


Sim! A tentação é a não satisfação. Não satisfação em primeiro lugar de ser quem é (imagem e semelhança de Deus), não satisfação em ter o que se tem, e o não contentamento do por vir ou do não vir a ter.

A tentação é deixarmos de reconhecer nossas reais necessidades e deixar que coisas acessórias se tornam nossas demandas, ou seja, falsas necessidades. É o desejo de ser detentor de meios que nos levem a acreditarmos que somos independentes. Não podemos confundir autonomia com independência... Esse é um erro comum e grave.

Mantermos a mente acima da tentação é um desafio. E acima de tudo isso se cumpre através de amor. Não há o que debater com a falsa necessidade, ou seja, com a tentação. Se fizermos isso vamos acabar achando um caminho, uma desculpa para cairmos na falsa necessidade, na nossa cobiça específica. O "Eu" contra o amor.



O Reino de Deus em nós, que é a vontade plena do Senhor (assim na terra como no céu) nos dá a saber o sentimento de necessidade e dependência de Deus, a saber o que de fato é necessário e que o ponto de satisfação está em amar, expresso em Jesus, e que o Reino não é comida nem bebida, mas paz e justiça e alegria no Espírito Santo." (Romanos 14 : 17). Por isso Jesus diz: "venha o teu Reino", e noutra vez clama: "buscai primeiro o Reino". Essa é a maior demanda e necessidade, pois maior necessidade do que Deus não há.

Ao sermos aceitos em Deus passamos a ter necessidades maiores do que o "eu". Agora sentimos a necessidade de que o próximo tenha paz, e justiça, e alegria no Espírito da vida. Sentimos necessidade de nos doar, pois temos amor de sobra, temos recursos mais que outros a medida que vemos que o nada termos já é muito para quem tem o Deus que satisfaz com a sua paz e o amor. Deus pode suprir-nos o que está em falta, mas sobretudo de amar mais. Deixar de lado o reininho do "Eu" e buscar mais o Reino de Deus é um passo. E se você errar, pois a própria oração confirma que erramos e por isso precisamos de perdoar para ter perdão, não se esqueça que temos um Pai que sabe das nossas necessidades, e que se sua necessidade é realmente acertar ele te dará ajuda necessária para tanto. Como diz Paulo: "O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus" Filipenses 4.19.


Vamos orar? Leia a oração do Pai Nosso e basei-se nela para orar assim como eu fiz abaixo.

"Pai da gente, Santo. Santo é tudo o que é teu, pois Tu és Santo. Assim sendo venha tua vontade plena em nós. Que a começar de um se espalhe para a comunidade. Me ajude a ser esse um vazio que se torna cheio quando somos um contigo, para assim eu ser um com o outro, e assim não olhar somente para minhas necessidades. Perdoa as nossas ofensas, somos devedores uns aos outros , pois não amamos o quanto deveríamos ou até mesmo poderíamos. Não nos deixe buscar satisfação em falsas necessidades, não nos deixe cairmos nesse erro. Da-nos a saber o que tu estás fazendo para completarmos o que estamos fazendo aqui. Nos lembre que somos tua imagem e semelhança. Teu é o Reino e nós os cidadãos, Teu é o poder e nós as ferramentas, Tua é a glória e o nós o espelho dela, sempre. Amém"!!!
 
Jorge Tonnera jr

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