quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Relação Eco-teológica do Dia de Ação de Graças e o Dia Sem Compras

Você já pensou nas coisas que você tem? Você já imaginou as suas demandas? Já se perguntou a respeito de suas necessidades? Já pensou em quanto você é abençoado por ter o que comer? Já agradeceu pelo Senhor ser sua provisão? São perguntas importantes para refletirmos sobre nossa vida.


Hoje, 25 de Novembro, quarta quinta-feira do mês de novembro, se comemora o Dia de Ação de
Graças. Uma comemoração que considera um tempo para agradecer a Deus por toda as suas
bençãos ao longo do ano. Não é que não devamos agradecer todos os dias. Gratidão é muito
bom. Poder agradecer a Deus pelo dia, por acordar, por ter o que comer, por beber, pelos
amigos, por qualquer coisa que te move e produz sentimento de viver.


Mas muito mais que a necessidade de se expressar gratidão a Deus enquanto individuo-
espécime e parte de um todo, é a necessidade de expressar gratidão enquanto povo. É a lógica
de comunhão. O Deus, o eu, o outro.





A gratidão é propagada por várias razões e em várias partes da Bíblia.
"Bom é render graças ao Senhor..." E outra vez: "Entrai por suas portas com ações de
graças..." (Sl 92.1 e 100.4).


"Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai". (Colossenses 3:17)


De 10 leprosos que Jesus curou somente 1 voltou para agradecer.(Lc 17:11-19 )


O Dia de ação de graça é uma festa originada em gratidão a provisão, a benção de ter o necessário, ao consumo necessário. E ela se estende ao domínio da nossa vida como um todo: o simples fato de existir e estar vivo, pois tudo o que Deus faz é bom, e nossa vida é um presente. O Dia de Ação de Graça é reconhecer que Deus nos abençoou ao longo do ano. Deus é nossa provisão. Ele provê tudo o que precisamos. Cuida de nós e nos protege.


+ Um Dia de Ação de Graças e visão ecológica.+


Na Catedral Presbiteriana, a qual sou membro, entregamos frutas. Entregamos nesse dia junto ao altar frutas de nossa preferência, como símbolo de gratidão a Deus por tudo o que Ele nos fez. Eu, por exemplo, entrego banana e maracujá, pois são as minhas frutas preferidas e as que mais consumo ao longo do ano e semanalmente. O alimento é posteriormente doado pela igreja.


A fruta simboliza muito melhor que o peru dos americanos. Peru estes que em sua maioria são
engordados de maneira degradante e bizarra. Penso que comê-los para comemorar gratidão seria talvez uma ofensa a Deus. Já a fruta, é o alimento físico primordial. Se formos pensar na criação e na redenção, vemos em Gênesis e no Apocalipse, a presença de árvores que dão frutos de vida. E ecologicamente, os frutos também são alimentos primordiais, pois os vegetais são o alimento ideal do ser humano, e são os seres vivos que permitem que a energia chegue a toda a cadeia alimentar. É o alimento que dispõe mais energia, pois a cada passagem trófica entre um nível e outro, apenas 10% da energia alimentar se aproveita. Assim quanto mais acima na cadeia alimentar menos energia se aproveita.


+E se juntássemos o Dia de Graça e o Dia sem Compra?


Você já ouviu falar no Dia sem Compras???



Dia Sem Compras – ou ‘Buy Nothing Day’, no original –, é um movimento voluntário de
simplicidade voluntária, que propõe uma pausa na rotina de compras.
É originado da crítica às consequências ambientais e sociais do consumismo.

Nos EUA e Canadá, a data ocorre na sexta-feira após o feriado de Ação de Graças, quando
lojas e centros comerciais recebem um grande número de visitantes antecipando suas compras
de Natal. A data do Dia sem Compras é sugestiva. O Dia sem Compra também é uma resposta ao consumismo americano que em 1939, por intermédio do presidente Franklin Roosevelt, instituiu que o Dia de Ação de Graças deveria deixar de ser celebrado na quarta quinta-feira do mês de novembro para ser celebrado na terceira semana de novembro, isso para que alavancasse o comércio, aumentando o tempo
disponível para propagandas e compras antes do Natal (À época, era considerado inapropriado
fazer propagandas de produtos à venda antes do Dia de Ação de Graças).






Para os cristãos essa idéia de Dia sem Compra pode ser um ótimo dia para prestar graças a Deus por Ele ser a nossa provisão e a maior de todas as necessidades. Na verdade, se formos pensar, Ele é a única necessidade verdadeira, pois quem está com Deus tem tudo o que precisa. Jesus nos ensinou lindamente pregando contra a ansiosa solicitude pela vida, em Lc 12.22-34, onde fala que Deus sustenta pássaros e lírios, e quanto mais o ser humano; diz que A VIDA É MAIS DO QUE O ALIMENTO E O CORPO MAIS DO QUE A ROUPA. Também fala que " "Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus. " (Lc 4.4)


A tradição judaico cristã possui experiências reflexivas como o Jejum, legisla sobre
período de descanso (shabath) e de período de não produzir (descanso da terra), coisas que tem uma certa relação com a idéia de parar a rotina de consumo.
Tanto o Dia de Ação de Graças como o Dia sem Compras, embora aparentemente distintos, são
na verdade um convite a sociedade repensar seus valores, suas prioridades, necessidades e
satisfações.


A cultura do consumismo cada vez mais propaga a idéia de que "quanto mais melhor", e cresce o
problema do “ter para ser”. Não é o consumo que é um problema, mas a maneira que consumimos
e geramos esse consumo, e o que fazemos com esse consumo, o pré-consumo (a busca de matéria
prima) e pós-consumo.


É o excesso de produção e consumo sem consciência que está gerando efeitos cascatas como aumento
de efeito estufa, desconforto social, desconhecimento da vida e inclusive de si mesmo,
degradação gerada por excesso de lixo, esgotamento de recursos naturais renováveis e não
renováveis e por aí vai.


O nosso pecado começou com um consumo, Adão e Eva resolveram que comer o fruto do
conhecimento do bem e do mal seria uma opção interessante. Esse foi o primeiro consumismo.


E sabemos no que deu...






Seja o Senhor a nossa provisão. Graças a Deus por tudo!


Jorge Tonnera Júnior

domingo, 21 de novembro de 2010

Até logo, Dona Esmeralda

Esmeralda

uma pedra bruta e cristalina de rara beleza interior
não existem mais outras como essa
simples e forte, valiosa e brilhante
agora está guardada no cofre do universo que só Deus tem a chave
sua energia se espalhava e atingia todos ao seu redor
cria da terra, sempre pé no chão, sua força vinha do coração
essa Esmeralda valiosa tinha muitas histórias
era adornada e lapidada com mais puro amor
o carinho e apego por ela o tempo não poderá jamais apagar
ela tinha luz própria, daquelas que não se apagam fácilmente
a lembrança dessa luz sempre permanecerá
até logo Dona Esmeralda


Por Andréa Moraes Tonnera

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Crianças, o Reino e a Sustentabilidade

"Deixai vir a mim as crianças, porque delas é o Reino dos Céus". (Mt 19,13-15)

Em um momento muito curioso Jesus estava junto a várias pessoas e alguns trouxeram suas crianças. Os discípulos vendo isto acharam desnecessário e não queriam que as crianças adentrassem no momento em que eles estavam com Jesus. O que os levou a isso? Talvez por acharem que elas seriam incapazes de ouvir Jesus. Talvez por acharem que elas não tinham importância frente a presença do Salvador. 
Independente de quais motivos o levaram a tomar tal atitude perante o Cristo, talvez uma das suposições que possa vir à mente de muitas pessoas é que, talvez os discípulos achassem dentre outros motivos, que aquelas crianças incomodariam com suas brincadeiras.


É sabido já faz tempo que brincadeiras fazem parte do mundo infantil, e são muito importantes para o desenvolvimento do ser humano. Tal importância não se dá apenas pelo fato de influenciar aquilo que cremos nitidamente (mundo visível e concreto), mas também aquilo que imaginamos de maneira distante, dada nossa capacidade de construir mundos em nós, ou seja, que existem em nossa mente. E por fim também elas acabam exteriorizando aquilo que pensam.
 
O que criamos ou desenvolvemos em termos práticos representa aquilo que somos. Percepções, intenções e conceitos circulam junto das idéias e logo cedo o ser humano percebe que os seres vivos dependem de fatores como água, ar e alimento para viver. Da mesma forma a criança sente a falta de alguma necessidade em algum momento, ao chorar e pedir manifestam sua necessidade. Questionam por que o céu é azul, fazem perguntas inusitadas, aparentemente bobas, mas que deixam muitos adultos sem saber responder etc. E é no brincar (momento mais familiarizado nos dias de hoje com o infantil) que a criança aprende intuitivamente, por exemplo começa a se auto-conhecer, conhecem seu corpo e a importância dele, integração com outros componentes, percebem como é bom a integração com outras crianças, bem como com o mundo físico, aprendem a harmonia das relações, respeito às regras, construir coisas e pensamentos, percebe noção de espaço, noção de tempo, cooperação, manter boa conduta, percebe justiça e comunhão etc.
 
Além disso a brincadeira oferece a oportunidade de despertar e
desenvolver a criatividade. Característica fundamental da existência humana. A criatividade é um dos fatores que podem nos ajudar a levar a novos rumos, a mudar padrões e conceitos, sair de paradigmas. Queremos reproduzir coisas que projetamos na mente, assim a criatividade está inserida no campo da sustentabilidade. Num momento em que o homem precisa de idéias para sustentabilidade e desenvolver-se sem degradar a vida, idéias utópicas ou simples poderão nos ajudar a nos relacionar melhor com o meio ambiente. 

A medida em que o mundo promove o desenvolvimento a qualquer maneira, nos dias de hoje só será possível chamar algo de "inovação" aquela idéia, conceito, tecnologia etc que for sustentável.
A partir de um entendimento da realidade finita de nossa vida e do nossa planeta, sustentabilidade pressupõe criatividade, pois para lidar com as numerosas e complexas variáveis que se interrelacionam e como
são arranjados é necessário um bom desenvolvimento da mente e das relações humanas consigo mesmo, com o próximo e com o ambiente, bem como demais formas de seres de vida. Tudo isso começa no despertar do sujeito, a infância. A criatividade acaba sendo uma habilidade pré-requisito.

As crianças são sensíveis e a percepção que elas tem às vezes é única. Isso me lembra uma história interessante sobre uma criança e um adulto e um quebra-cabeça:
Certo dia um pai estava tentando descansar um pouco em sua sala numa tarde de Domingo, enquanto o seu filhinho o incomodava dizendo: "Papai, eu estou enjoado." Então o pai, tentando inventar um jogo, descobriu a imagem de um globo terrestre em uma folha de jornal. Ele picotou a página do jornal em mais de 50 pedaços e disse: "Filho, isto aqui é um quebra-cabeças. Quero que você o monte para mim". Ele deitou-se no sofá para dar uma cochilada, pensando que teria pelo menos de uma hora e meia a duas horas de sono sossegado. Em pouco mais de 15 minutos, o menino veio a ele e disse: "Papai, terminei. Montei o seu quebra-cabeças." "Você está brincando," disse o pai. Ele sabia que o seu filho não conhecia geografia o suficiente para saber onde colocar as nações do mundo no seu devido lugar. Admirando o que o menino fizera, ele perguntou: "Como é que você fez isso, meu filho?" O menino respondeu: "Papai, aqui atrás do quebra-cabeças há a figura representando Jesus e quando eu coloquei as partes dessa figura no lugar certo, o mundo ficou legal, está tudo certinho."
Criamos muitas coisas, coisas estas que nascem com determinada utilidade, mas que às vezes acabamos encontrando nova forma de uso, em outras palavras Reutilização, mas o caso é que tudo isso nasceu da criatividade, a qual muitas vezes nasceram na infância, por meio das brincadeiras. O ecodesign está aí para nos surpreender e mostra-nos a importância da criatividade. A mente da criança é capaz de criar um carro solar e por aí vai. Lembro-me quando eu era 
criança e tinha vontade de criar coisas, carros voadores, robôs, invenções fantásticas, queria eu ir para o espaço, achava que combinando líquidos de cores diferente aconteceria uma coisa interessante. Gostava de olhar as formas dos seres vivos. Não havia suporte científico, mas intuitivamente esperava que poderia mudar
as coisas e o mundo. 
 
Nos ajude a sermos as pessoas do seu Reino, Senhor Jesus, e
abençoe Deus as crianças do nosso tempo,
e que nos ajude a cuidarmos delas. Amém!!!!

Jorge Tonnera Jr.
Biólogo educador ambiental

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A ética do Reino do céu e a sustentabilidade da Terra

É chegado o Reino dos céus! Clamava o Rei (Jesus) e seu arauto (João, o  Batista).
Mas o que se pregava a respeito desse reino e que tipo de pessoa faz parte deste reino?

Através das parábolas e do sermão do Monte, Jesus nos mostra a compreensão desse sentido de vida. Jesus nos leva a superar a lógica do "EU". Ele pregou um reino de paz e justiça com seu amor. Pregou a lógica da
convivência e não da concorrência, a prática da cooperação, a vida benevolente dentro da mesma comunidade terrenal, uma vida mutualística, a satisfação do outro, o cuidado com a acumulação e apego material, o conhecimento acerca da natureza (o conhecer local), a comunhão (união no comum), a
benevolência etc.

 Nas relações estão os desafios para uma vida. São nessas relações que ocorrem efeitos que levam uns aos outros a se degradar e a degradar o outro e a natureza que nos cerca, prejudicando o meio ambiente e assim voltando a degradação para nós, construindo um ciclo de desgraça.  

 
Precisamos de NOVIDADE DE VIDA! 
Assim como na parábola da semente de mostarda, em que Jesus procura explicar o Reino dos céus por meio da comparação com a menor semente local, que acaba originando uma planta surpreendemente muito maior que a própria semente (Mateus 13:31-32), às vezes em gestos pequenos encontramos muito amor. Podemos perceber benevolência em simples gestos na nossa vida, seja em cuidar de uma horta, ou até mesmo no cuidado com o lixo, participar de formas de economia solidária, buscar soluções e decisões que levem em conta a vida como um todo, observar as realidades envolvidas, a divisão do lucro, educar o próximo etc.

A presença de pessoas que entram no Reino pressupõe uma sociedade justa, e assim uma vida mais viva, mais respeitável, mais atenta às necessidades reais, e com isso um meio ambiente acessível e sustentável
e, por fim, um planeta-casa (verdadeiramente).

Quando vier o Reino em sua totalidade visível o cidadão do céu que viverá nele é aquele que experimentou as boas aventuranças que Jesus pregou no monte, é aquele que preferiu o amor ao ódio, são aqueles que repartiram o pão e viveram em comunhão, aqueles que amaram a Deus em primeiro lugar e o próximo como a si mesmo.

A vida é objeto da pregação de Jesus e seu reino. A nossa vida deve ser um culto a Deus.
Jesus ensina o que mais falta no projeto de vida dos seres humanos: Amor.
A corrupção do homem e a degradação do meio ambiente são causados por falta de amor. O ser humano acaba sendo movido por ganância a amontoar terras, a desprezar pessoas de um dado lugar, suprimindo serviços ecológicos, exaurindo pessoas, matando, roubando e destruindo etc...

"Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente", escreveu Paulo apóstolo (Romanos 12:2).
Uma nova concepção e visão de mundo Deus nos dá através de Jesus.
Devemos rever as relações e tomar a iniciativa de projetarmos esta vida de Cristo (cristã) nas relações desse mundo.

Para meditármos na Palavra do Excelente:

"Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas". (Mateus 6:33)

..."porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém"! (Mateus 6:13. )

"Quão grandes são os seus sinais, e quão poderosas as suas maravilhas! O seu reino é um reino sempiterno, e o seu domínio de geração em geração". (Daniel 4:3)

"Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu". (Mateus 6:10)













Pensando no Reino,

Jorge Tonnera Jr.
Biólogo educador ambiental

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A VIDA VERDADEIRA

A VIDA VERDADEIRA
 Pois aqui está minha vida
Pronta para ser usada.
Vida que não se guarda
Nem se esquiva, assustada.
Vida sempre a serviço da vida.
Para servir ao que vale
A pena e o preço do amor
...
Não tenho caminho novo.
O que tenho de novo
É o jeito de caminhar.
Aprendi
(o caminho me ensinou)
 A caminhar cantando
                                                                  Como convém
                                                                    A mim
                                                                  E aos que vão comigo.
                                                                  Pois já não vou mais sozinho.

                                                                                        Mello (1999, p. 21)

A palavra Cristão significa cristo pequeno, imitar a Cristo. 
Crer em Jesus é muito mais que acreditar nas coisas ditas por Ele. 
É fazer o que ele fez, praticar as suas palavras.


  Jesus disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. 

 

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O Brasil está se preparando para ter 20% de energia eólica até 2020

 Ver de perto uma foto como esta acima é marcante. Eu já vi e sei. Dom Quixote iria ficar de queixo caído.

“O Brasil está se preparando para ter 20% de energia eólica até 2020″, afirmou aoEstadão Arthur Lavieri, que há dois meses assumiu o controle da Suzlon. A multinacional anunciará até novembro o nome da cidade, no Ceará, que vai receber uma fábrica de aerogeradores com capacidade para produzir até 600 pás e 500 MW de turbinas por ano. Será a única nova unidade do grupo até 2011. “Brasil, Índia e China são os três maiores mercados eleitos pela Suzlon”, acrescentou o executivo.

A queda do preço da energia eólica e a alta do consumo energético no Brasil(12% ao ano) farão com que o país tenha 161 novas usinas até 2013 (hoje são 45), passando dos atuais 700 MW para 5.250 MW, segundo reportagem do jornal O Estado de S.Paulo.

íntegra: http://blog.eco4planet.com/2010/11/brasil-tera-161-novas-usinas-eolicas-ate-2013/



quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Ecologia Religiosa de Lutero II

Crédito de Carbono são indulgências.
Indulgências verdes

por Marcelo Leite
———————————————-
Está fazendo falta um Lutero para sacudir a igrejinha verde de nossos tempos




Em 1517, a Reforma foi deflagrada por causa do envio do frade dominicano Johann Tetzel de Roma à Alemanha para vender indulgências -uma espécie de letra de câmbio papal, com a qual se resgatavam na Casa do Tesouro do Mérito os pecados cometidos. Era pagar e ir para o céu.
Martinho Lutero discordou do esquema, escreveu suas 95 teses e pregou-as na porta da igreja do Castelo de Wittenberg. O resto é história.
A compra e venda de indulgências, no entanto, segue firme. Mudou de ramo, aplacando agora consciências recém-convertidas ao credo ambiental por meio da neutralização de carbono.
Parece bem lucrativo, e por ora não se vislumbra o risco moral de um Lutero verde no horizonte.
Os jornais diários são a oração matinal realista do homem moderno, já disse Hegel. Com efeito, foi nas páginas do “Los Angeles Times” que encontrei -após uma dica da página de internet ksjtracker.mit.edu- um desafio frontal ao papa da santimônia ecológica, Al Gore. No foco da denúncia, o documentário “Uma Verdade Inconveniente”, já criticado aqui em 19 de novembro de 2006.
Outros jornalistas tinham pegado no pé de Gore por causa da conta de eletricidade de sua casa, que monta a milhares de dólares. O gasto excessivo de energia estava em contradição com as mudanças de comportamento que ele prega, destinadas a reduzir emissões de carbono de cada indivíduo preocupado com o aquecimento global e o futuro do planeta.
A própria produção do filme, porém, provocou o lançamento de muito gás do efeito estufa na atmosfera. A cada viagem de jato do pregador Gore, por exemplo, o querosene queimado nas turbinas lança no ar compostos -como o gás carbônico- que ajudam a engrossar a camada de gases que retêm calor na atmosfera, aquecendo-a.  02/08/09     excluir  Jorge 
O fenômeno é análogo ao que esquenta o ar dentro de uma estufa de plantas (daí o nome “efeito estufa”). Como Gore e sua trupe são ecologicamente corretos, preocuparam-se em “neutralizar” tais emissões. Funciona assim: alguém contabiliza todas as atividades relacionadas com o filme que emitem gases-estufa, converte-as para toneladas equivalentes de gás carbônico e paga para algum corretor de títulos de carbono comprá-los no mercado livre.
Se você está achando a coisa toda muito parecida com a compra e venda de indulgências, bem, é isso mesmo.
Pelo menos é o que se depreende da reportagem de Alan Zarembo no “LA Times” de domingo passado: os 496 dólares e 96 centavos que os produtores de “Uma Verdade Inconveniente” pagaram para neutralizar as 41,4 toneladas de carbono geradas pelo filme não serviram para grande coisa.
O intermediário, uma firma chamada Native Energy, empregou o dinheiro para comprar e repassar -com lucro provável de quase 10 dólares por tonelada- títulos de projetos que haviam economizado emissões de gases-estufa na Pensilvânia (geração de eletricidade a partir de metano de esterco de vaca) e no Alasca (eletricidade produzida com turbinas de vento).
O galho, descobriu o repórter Zarembo, é que ambos os projetos iriam ser feitos de qualquer jeito, com ou sem os títulos de carbono. O dono das vacas pretendia ganhar direito vendendo eletricidade extra para a rede e aceitou alegremente, sem negociar, a primeira oferta da Native Energy para comprar as reduções. Algo de similar aconteceu no Alasca.
Johann Tetzel e Al Gore que nos perdoem, mas está fazendo falta um Lutero para sacudir a igrejinha verde de nossos tempos.


 

A ecologia religiosa de Lutero

No dia 31/10/2010 comemora-se 493 anos da Reforma Protestante. Por isso mesmo posto aqui um texto chamado

"A ecologia religiosa de Lutero ", uma matéria da revista JB ECOLÓGICO, que vinha junto do Jornal do Brasil periodicamente. Essa matéria saiu na edição 37 ano 3 fev.2005, coluna memória iluminada.
segue a matéria:

Não sabe o que nos roubaram de informação quem ainda não assistiu "Lutero", a biografia do teólogo alemão Martinho Lutero, em cartaz em todos os cinemas inteligentes do planeta. Dirigido por Eric Till e tendo como protagonista o ator Joseph Fiennes ( de "Shakespeare Apaixonado"), o filme conta a história e a mensagem de um dos espíritos mais iluminados na história da humanidade. Um homem que, como poucos, soube honrar a condição de cristão e professar o seu amor a Cristo, tão diferente do que se ensina e pratica nos países de forte dominação e doutrinação católica. Aqui, um pouco do que Lutero falou, afirmando, ele próprio, estar falando exatamente o que Cristo pregou. E por isso mesmo, por reverberar essa luz, foi perseguido e julgado pela Igreja e os governantes de sua época.

PROCURA
"Não procuro o poder e o prazer do mundo, mas consolo e alívio".


PECADO
"O princípio de todo pecado é afastar-se de Deus e não confiar n'Ele. Devemos temer e amar a Deus, para que não tiremos do nosso próximo o seu dinheiro ou os seus bens. Nem nos apoderemos deles por meio de mercadorias falsificadas ou negócios fraudulentos, mas devemos ajudá-lo a conservar e melhorar os seus bens e o seu modo de vida".


OBRA
"Toda obra que não tenha por objetivo servir aos demais não é uma boa obra cristã".


AMOR
"O amor só é verdadeiro quando também a fé é verdadeira.O amor que não busca o seu, mas o bem do próximo".
"Cada um tem que arriscar seus bens e sua vida por amor aos outros".
"O amor ao próximo não olha para o que é próprio. Também não olha se a obra é grande ou pequena, mas considera apenas a sua utilidade e necessidade para o próximo ou para a comunidade". 
 
LEIS
"O justo, por si só mesmo, faz tudo e mais ainda do que o exigido por todas as leis. Os injustos, em contraposição, nada fazem que seja justo. Por isso necessitam da lei que os ensina, obriga e pressiona para agirem bem. Uma boa árvore não necessita nem de ensino nem de lei para dar bons frutos. Ela traz consigo a natureza, que faz com que sem lei e ensino produza fruto. Tal como os verdadeiros cristãos, que não precisam de lei ou norma".


CONFIANÇA
"Não se deve confiar nos livros mortos nem em cabeças vivas. Mas ater-se somente a Deus, orar com insistência e pedir-lhe entendimento reto".


DIREITO
"Quando não puder castigar uma injustiça sem provocar outra maior, deixe de lado o seu direito, mesmo que esteja bem fundamentado".
"Não se deve resistir à autoridade com a violência, mas apenas com o testemunho da verdade".


VINGANÇA
"Um cristão deve ser de tal natureza, que sofra todo o mal e injustiça, não se vingando, também não procurando proteção para si, perante o tribunal. Não deve fazer uso algum de poder e direito secular para si mesmo. Vós tendes o Reino dos Céus, por isso deveis deixar o reino da Terra àquele que vo-lo tira".


HUMILDADE
"Quando conseguimos uma vitória, devemos conceder graça e paz aos que se rendem e se humilham. Para Deus, é o mesmo se ele te tira os bens e tua vida por meio de um senhor justo ou injusto".


RARIDADE
"Desde início do mundo, um príncipe sábio é ave rara, e um príncipe honesto, mais raro ainda".
"Se alguma vez acontece de ser um príncipe sábio, honesto e cristão, estamos diante de uma maravilha e do sinal mais precioso da graça divina sobre esse país".
"O mundo é demasiadamente mau e não merece ter muitos príncipes sábios e honestos. As rãs necessitam cegonhas".


CRISTO
"Jesus Cristo não usou a espada nem instituiu nenhuma em seu reino".
 
CRISTÃO
"Entre mil, é difícil encontrar um verdadeiro cristão. Um devoraria o outro, de maneira que ninguém estaria em condições de constituir família, trabalhar pelo sustento e servir a Deus. O mundo seria devastado".
"O verdadeiro cristão não vive na Terra para si próprio, mas para o próximo, e lhe serve. Também faz aquilo de que ele próprio não necessita, mas que é proveitoso e necessário ao próximo".
"O cristão é um senhor livre de todas as coisas e não está sujeito a ninguém".


PERFEIÇÃO
"Quem mais crê e ama, esse é perfeito, podendo exteriormente ser homem ou mulher, príncipe ou camponês, monge ou leigo. Pois amor e fé não provocam, exteriormente, separações ou diferenças".


COMUNIDADE
"A minha força nada faz. Sozinho estou perdido".


PIEDADE
"Deus não consegue tornar-nos piedosos, seja humilhando ou elevando-nos. Seja através de felicidade ou infelicidade, nós sempre ficamos ou desesperados ou orgulhosos".


FALSOS PROFETAS
"Os falsos pregadores são piores do que violentadores de virgens".
"Um falso mestre, cuja doutrina seja impura, desvia uma, duas, mil e até mais pessoas".


AGRICULTURA E COMÉRCIO
"É mais divino fomentar a agricultura e diminuir o comércio. Agem muito melhor aqueles que, conforme a Escritura, trabalham a terra, procurando nela o seu alimento".
 
"FALAR EM PÚBLICO"
"Quando alguém sobe ao púlpito pela primeira vez, ninguém imagina o medo que ele passa. Principalmente porque vê tantas cabeças à sua frente. Quando subo ao púlpito, não olho para pessoa alguma. Fico pensando que tenho tocos à minha frente e dou um jeito de entregar a palavra de Deus".


DIALÉTICA E RETÓRICA
"A dialética ensina. A retórica move e comove. Esta pertence à vontade, aquela à razão".
"O mundo quer ser enganado. E, por isso, precisa de gesticulação".
"Se eu fosse mais jovem, cortaria e abreviaria muita coisa em minhas apostilas. Pois usei palavras demasiadas e excessivas. Ninguém consegue acompanhar nem assimilar falas tão compridas".


PAPA
"Não creio nem na infalibilidade do papa, nem na dos concílios, porque é manifesto que frequentemente se têm equivocado e contradito".


SACERDOTES E BISPOS
"Entre os cristãos não há superior, a não ser o próprio Cristo. Os sacerdotes e os bispos não são mais eminentes nem melhores do que outros cristãos. Por isso, não devem impor lei ou mandamento a outros, sem a vontade e o consentimento deles".
"Se a autoridade secular se atreve a impor uma lei à alma, aí ela interfere no regime divino, seduzindo e corrompendo as almas. Por isso é o cúmulo da loucura quando ordenam que se creia na igreja, nos pais da igreja, nos concílios".



LUTERO
"Sou um pobre e fedorento saco de verdes. Peço que meu nome seja calado e que ninguém se chame de luterano, senão de cristão. Que é Lutero, se a doutrina não é minha? Eu também não fui crucificado por ninguém. Só Cristo é o verdadeiro mestre".


QUEM FOI LUTERO
Martinho Lutero nasceu em Eisleben, Alemanha, em novembro de 1483, onde faleceu aos 63 anos. Frequentou a Universidade de Erfurt, onde se graduou como bacharel nas Sete Artes Liberais. A pedido de seu pai, ele resolveu dedicar-se à jurisprudência. Contudo, em julho de 1505, quando se dirigia à sua casa, ele foi surpreendido por uma forte tempestade.  
E quando os relâmpagos e trovões estalaram ao seu redor, ele temeu ser atingido por um raio e fez um voto a Deus de se tornar monge agostiniano. Dois anos depois, também foi ordenado sacerdote católico. Além de professor de filosofia e Teologia, tornou-se preletor e intérprete das Sagradas Escrituras. Em 1517, discordando dos dogmas da Igreja Católica Romana, Lutero pregou no portão da Igreja do Palácio, em Wittengerg, suas 95 teses combatendo os abusos da Igreja, principalmente a venda de indulgências pelo frade Tetzel(interpretado no filme, pelo ator Alfred Molina).
Interrogado, negou a infalibilidade do Papa e queimou tanto a Lei Canônica como a bula de sua condenação. E ainda publicou suas três obras mais importantes sobre a Reforma Protestante antes de ter sido excomungado, em 1521. Ele também recusou a se retratar, conforme exigência do imperador Carlos V, e foi banido do reino.
Escondido pelo príncipe Frederico, o Sábio, no Castelo de Wartburg, Lutero traduziu o Velho e Novo Testamento, imprimindo-os para o povo alemão. Em 1522, regressou a Wittenberg, de onde preparou a Reforma da Igreja.
Outro escândalo e a revolução para a época. Antes de morrer e edificar o primeiro prédio do protestantismo, em 1544, em Torgau, Lutero casou-se com a ex-freira Catarina de Bora, que havia desertado do convento junto com oito outras religiosas católicas. Apenas exigindo-lhe fidelidade, Catarina foi uma esposa trabalhadora e amorosa, e lhe deu três casais de filhos.
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