domingo, 8 de abril de 2012

Com 44% de ateus, Holanda usa igrejas como livrarias e cafés

Ao meu modo de ver a princípio é muito interessante você ver Catedrais e locais institucionais de culto cristão sendo usados para funções culturais, sobretudo para livraria. Aqui no Brasil muitos cinemas fecharam e foram comprados por igrejas como a "Universal do Reino Bispo Macedo". Mas vejam bem. Não se trata de ver como perda, mas talvez como ganho. Até o simples fato de uma pessoa ler um livro num local que remete ao culto do Cristo quem sabe de alguma forma até aproxime de uma maneira diferente essa pessoa descrente para perto de Deus. Tudo coopera para o bem, e o Espírito Santo é quem move as igrejas. Então não vejo como algo tão terrível. Além do mais igreja nunca deveria ter se transformado em espaço físico, mas ter sido mantida a ideia do fundador da igreja, o Senhor Jesus Cristo, como coletivo de pessoas. E mais ainda sabemos que as igrejas se reunião inicialmente dentro de casas comuns. É bem verdade sim que uma catedral é linda e é um louvor a Deus, mas saibam aqueles que confundem o espaço com o coletivo vivo que Catedral e Igrejas físicas não são templos do Deus Jesus. Nós enquanto coletivo, a igreja viva, somos o verdadeiro Templo. É claro que quanto as transformações desses antigos espaços de culto cristão deve haver exceções. Ninguém gostaria de ver uma catedral virar um local de tráfico humano e de drogas, por exemplo. Bom vale pensar. Quanto ao índice de ateísmo, isso realmente é mais triste do que uma Catedral fechar...

Com 44% de ateus, Holanda usa igrejas como livrarias e cafés


Livraria Selexyz, em Maastricht
Café Olivier, em Utrecht
As igrejas e templos da Holanda estão cada vez mais vazios e as ordens religiosas não têm recursos para mantê-los. Por isso esses edifícios estão sendo utilizados por livrarias, cafés, salão de cabeleireiro, pistas de dança, restaurantes, casas de show e por aí vai.

De acordo com pesquisa de 2007, a mais recente, os ateus compõem 44% da população holandesa; os católicos, 28%; os protestantes, 19%; os muçulmanos, 5%, e os fiéis das demais religiões, 4%.

A maioria da população ainda acredita em alguma crença, mas, como ocorre em outros países, nem todos são assíduos frequentadores de celebrações e cultos religiosos.

Algumas adaptações de igrejas têm sido elogiadas, como a de Maastricht, onde hoje funciona a livraria Selexyz (primeira foto acima). A arquitetura realmente impressiona.

O Café Olivier (a segunda foto), em Utrecht, também ficou bonito e agradável. Ao fundo, em um mezanino, se destaca o órgão da antiga igreja – um belo enfeite.

Uma igreja do século 19 de Amsterdã virou o “templo do pop”, o Paradiso, onde se apresentam badaladas bandas de rock e cantores nacionais e internacionais, entre os quais alguns brasileiros, como o Seu Jorge.

Até agora, ao que consta, não apareceu em nenhum desses locais alguém para expulsar os vendilhões do templo.

Igreja de Amsterdã virou casa de show


Leia mais em http://www.paulopes.com.br/2010/10/com-44-de-ateus-holanda-usa-igrejas.html#ixzz1rVQGbYnu
Reprodução deste texto só poderá ser feita com o crédito e link da origem.

Páscoa: a história de um relacionamento. da libertação a identidade.

Essa não é a história de uma religião. É a história de um relacionamento.
Cristianismo, não é uma religião; mas sim um relacionamento. (Podemos dizer que o cristianismo histórico, esse sim é religião, a religião do Constantino. No entanto o cristianismo enquanto o relacionamento de Deus com o homem e toda a sua criação, bem como do homem com o todo não é religião, nem tão pouco algo institucional. Jamais poderia ser institucionalizado). Todo império tem sua religião, mas porquanto o Reino do céu ser apenas a plena vontade do Deus vivo,e não um império, podemos afirmar que a vontade de Deus é o maior relacionamento que existe.


 São duas palavras que começam com o mesma prefixo "RE": Religião e Relacionamento. Enquanto Religião vem de "religar", é a babaca hipótese arrogante de chegar a Deus. Já o cristianismo, enquanto Relacionamento é Deus chegando ao homem.
Impossível pensar que o homem poderia chegar a Deus. É como diz CS Lewis autor de Crônicas de Narnia: "Se Deus não se revelar ninguém pode conhecê-lo".

Ele não somente se revelou como revelou quem somos. Através dele vemos o homem que Deus quer e o Deus que o homem precisa. Essa mesma pessoa homem e Deus é presa e sofre diversas humilhações, espancamento, tortura, há quem pense até que passou nessa sessão de tortura abuso sexual. Mas sendo ele portador de toda causa e fim, de todo amor e tendo consigo a vida que jamais seca foi crucificado. Três dias depois ressucitou. E mais! Ele também prometeu voltar.

... Mais de 2.000 mil anos depois e Jesus ainda não voltou como prometido... o que poderia frustrar qualquer pessoa e levantar toda sorte de piada e negação dos críticos de seus seguidores e daqueles que torcem para que Deus não exista.

Mas mesmo assim creio que ele voltará, ainda que demore mais 2.000 anos, se preciso. E por quê??? Qual apoio tenho eu? Que base sólida tenho para continuar visando essa expectativa???

Creio pelo simples fato do que ele pregou: o amor; ter sido tão coerente, tão atual, tão pessoal e íntimo quanto um pai falando com um filho no ouvido bem de perto. Creio porque o significado final de Páscoa é que o amor liberta! Que amando por meio dele já não seremos mais cativos do pecado, o qual nos mantinha presos. Creio que por isso é uma questão de respeito a verdade. Respeito também a verdade porque ele ensinou tudo o que precisávamos, não deixando nada faltando. E é também uma questão de respeito a verdade porque ninguém foi como ele. Uma visão superficial nos levaria a enquadrá-lo como ingênuo, louco, um mestre como outros, mas uma visão profunda, a qual somente pela Bíblia compreendida de geneses a apocalipse nas entrelinhas de seus contextos narrativos e culturais pode entender realmente não só o Jesus histórico como entender que o Jesus histórico e o da fé são a mesma pessoa, e que o Jesus histórico é o Jesus atemporal, ou como "Eu Sou o que sou". O mais humano dos humanos,e o único Deus revelado encarnado.

Páscoa não é uma simples questão fé, mas uma profunda e crítica prospecção, introspecção e reflexão filosófica de quem somos e o que podemos e deveríamos ser.

Vejamos um detalhe pouco percebido nos acontecimentos que se seguem à ressurreição de Jesus Cristo. Pouco tempo depois de Jesus ressucitar, então Maria que era sua discípula foi o procurar e não encontrou o corpo do Senhor Jesus. Mas logo em seguida Maria olha e próximo dali lá estava o Senhor Jesus possivelmente lavrando a terra, pois Maria pensou que Jesus fosse o jardineiro daquele local e ali havia um horto (João 19:41 e João 20: 11,17). Leia Geneses e veja se isso te lembra alguma coisa: "Ora, o Senhor plantou um jardim no Éden e pôs nele o homem para o cultivar e o guardar."(Gn 2:15) Há um interessante e extraordinário paralelismo entre esses dois textos. É Jesus em termos simbólicos dizendo: "Resgatei a identidade e a vida do homem, aquele que eu coloquei para lavrar a terra.
Vamos repensar mais ainda esse fato. Depois de Jesus ressucitar ele é confundido com um jardineiro por Maria Madalena, conforme já dito, pois possivelmente Jesus estava lavrando a terra ao lado do sepulcro, já que ali tinha um horto, segundo a Bíblia. Ok. Talvez você possa pensar que ele estivesse simplesmente guardando sua identidade. De fato isso tem a ver com identidade. Mas principalmente tem a ver com a nossa identidade. Na verdade ele estava é simbolicamente recriando o homem Adão do Geneses em termos de função. 
Fico imaginando, que Jesus, poderia muito bem sair fazendo todo um barulho, ridicularizando aqueles que o humilharam. Poderia sair com uma pirotecnia pra dizer: "voltei hein!". Mas não, ele simplesmente preferiu voltar-se para a singeleza e humildade de identidade do ser humano atribuida ao cultivo e guarda da terra, simplesmente. Esse é o Deus que devolve ao homem o verdadeiro homem/humanidade, e por conseguinte quem é o Deus verdadeiro para habitar com o homem. Jesus lavrava a terra como símbolo de ter ele resgatado a identidade do homem, já que a identidade nossa está no cultivar e guardar a terra, pois que Deus nos colocou no Horto do Eden para desenvolvermos a vida a partir da terra. Interessante e emocionante. demais.
Considerando que o jardim do Eden mais provavelmente era um Horto, e não um jardim como entendemos literalmente num sentido europeu, em termos ecológicos ser criado (o homem Adão) dentro de um Horto e fazendo a gestão ambiental como um jardineiro é uma visão muito mais interssante quanto tanto mais real e profunda. Na Bíblia o que é profundo te leva mais a realidade. Paradoxal como sempre. Senão não seria meu amado Jesus. rsss

Quer comemorar a Páscoa? Fica a dica. Plante uma árvore, abençoe o solo através de uma semente, a qual crescerá tal árvore e esta abençoará muitos animais e muitas pessoas com seus serviços ecológicos e seu valor intrínseco. Ressucite uma área degradada, prejudicada, suja, destituida de valor ou de identidade, uma área morta culturalmente, e você levará vida e identidade a um povo. Ir pelos campos para abençoar os solos e as semeaduras ainda hoje faz a Igreja Ortodoxa na manhã de Páscoa.




 Somos libertos e livres para amar e com através desse amor desenvolvamos a vida na terra em todos os sentidos que isso possa ter. 
Páscoa é comunhão plena. É comunhão com Deus, com o homem, com todos os demais seres e com a Terra, pois o Deus intangível e infindável se torna organicamente visível (encarna) e ceia a nossa liberdade pelo amor e nos tira do cativeiro do egoísmo e da destruição.

Aleluia. Hosana!

Ora, vem Senhor Jesus.

Jorge Tonnera Jr.
Biólogo educador e gestor ambiental



A ressurreição como insurreição

07/04/2012
Há uma questão da existência social do ser humano que atormenta o espírito e para a qual a ressurreição do Crucificado pode trazer um raio de luz: que sentido tem a morte violenta dos que tombaram pela causa da justiça e da liberdade? Que futuro têm aqueles proletários, camponeses, índios, sequestrados, torturados, assassinados pelos órgãos de segurança dos regimes despóticos e totalitários, como os nossos da América Latina, em fim, os anônimos que historicamente foram trucidados por reivindicarem seus direitos e a liberdade para si e para toda uma sociedade?
Geralmente a história é contada pelos que triunfaram e na perspectiva de seus interesses. A nossa, a brasileira, foi escrita pela mão branca. Só com o historiador mulato Capistrano de Abreu apareceu a mão negra e mulata. O sofrimento dos vencidos quem o honrará? Seus gritos caninos que sobem ao céus quem os escutará?
A ressurreição de Jesus pode nos oferecer alguma resposta. Pois, quem ressuscitou foi um destes derrotados e crucificados, Jesus, feito servo sofredor e condenado à vergonha da crucificação.
Quem ressuscitou não foi um César no auge de sua glória, nem um general no apogeu de seu poderio militar, nem um sábio na culminância de sua fama, nem um sumo-sacerdote com perfume de santidade. Quem ressuscitou foi um Crucificado, executado fora dos muros da cidade, como lembra a Carta aos Hebreus, quer dizer, na maior exclusão e infâmia social.
Mas foi ele que herdou as primícias da vida nova. Pois a ressurreição não é a reanimação de um cadáver como aquele de Lázaro. A ressurreição é a floração plena de todas as virtualidades latentes dentro de cada ser humano. Ela revela o sentido terminal da vida: a irradiação suprema do “homo absconditus” (o humano escondido) que agora se faz o “homo revelatus”(o humano revelado).
A ressurreição de Jesus mostrou que Deus tomou o partido dos vencidos. O algoz não triunfa sobre sua vítima. Deus ressuscitou a vítima e com isso não defraudou nossa sede por um mundo finalmente justo e fraterno que coloca a vida no centro e não o lucro e os interesses dos poderosos. Só ressuscitando os vencidos, fazemos justiça a eles e lhes devolvemos a vida roubada, vida agora transfigurada. Sem essa reconciliação com o passado perverso, a história permaneceria um enigma e até um absurdo.
Os injustamente executados voltarão, com a bandeira branca da vida. O verdadeiro sentido da ressurreição se mostra como insurreição contra as injustiças deste mundo que condena o justo e dá razão ao criminoso.
Agora pode começar uma nova história, com um horizonte aberto para um futuro promissor para a vida, para a sociedade e para a Terra. Dizem historiadores que o mundo antigo não conhecia o sorriso. Mostrava a gargalhada do deus Baco ou o riso maldoso do deus Pan. O sorriso, comentam, foi introduzido pelo Cristianismo por causa da alegria da Ressurreição. Só pode sorrir verdadeiramente quando se exorcizou o medo e se sabe que a grande palavra final é vida e não morte. O sorriso, portanto, é filho da Ressurreição que celebra a vitória da vida sobre a morte, testemunha o encantamento sobre a frustração e proclama o amor incondicional sobre a indiferença e o ódio.
Este fato é religioso é somente acessível mediante a ruptura da fé. Admitindo que a ressurreição realmente aconteceu intra-historicamente, então seu significado transcende o campo religioso. Ganha uma dimensão existencial, social e cósmica. Na expressão de Teilhard de Chardin, a ressurreição configura um “tremendous” de dimensões evolucionárias, pois representa uma revolução dentro da evolução.
Se o Cristianismo tem algo singular a testemunhar, então é isso: a ressurreição como uma antecipação do fim bom do universo e a irrupção dentro da história ainda em curso do “novissimus Adam” como São Paulo chama a Cristo: o “Adão novíssimo”. Portanto, não é a saudade de um passado mas a celebração de um presente.
Depois disso, cabe apenas se alegrar, festejar, ir pelos campos para abençoar os solos e as semeaduras como o faz ainda hoje Igreja Ortodoxa na manhã de Páscoa.Entoemos, pois, o Aleluia da vida nova que se manifestou dentro do velho mundo.
Leonardo Boff é autor A nossa ressurreição na morte (Vozes).

sexta-feira, 6 de abril de 2012

O Segredo ou o Sagrado?

Gosto muito dos livros do Rabino Nilton Bonder. Embora naturalmente por minha cosmovisão cristã não concorde em tudo. Mas no geral é sempre uma boa leitura.
Atualmente estou lendo dois livros dele. Um deles se chama "O Sagrado". Este livro é bem contestador a medida que ele se opõe as duas vertentes mais presentes das filosofias de nossa época. Conforme diz em sua sinopse: "Numa era de incertezas e competição, o ser humano se sente carente de valor. O resgate desta estima tem hoje dois caminhos: o racionalismo e o esoterismo.Um quer redimir o ser humano pelo controle e o outro pelo privilégio; um pelo poder, o outro pelo desejo; um pela tecnologia, o outro pelo segredo". Continuando ele afirma e de certa maneira desafia a olhar por outra perspectiva. Ele diz que há uma terceira via, que distante do racionalismo que quer entender acima de todo custo e do esoterismo que quer evocar, há "o Sagrado", que acolhe incerteza, fortalecendo as escolhas, resgata a vida em sua totalidade, é simples e profundo ao mesmo tempo, potencializando o viver em sua integralidade, considerando outras realidades que não conseguimos ver. Sendo assim racional sem desprezar o que não se vê.O livro nos coloca como parte e não meio e fim. Como pertencentes da comunidade da vida ninguém tem que se achar no privilégio e direito de ter por simples querer. O tema e o próprio título É um coerente trocadilho perfeito que surge como crítica ao livro "O Segredo", famoso best-seller que tenta vender e convencer as pessoas com doses de "ciências" para elas crerem que o que elas pensam e desejam podem atrair tudo para si. O trocadilho do livro também é ao mesmo tempo uma crítica ao racionalismo que acha que a fé não passa de coisas encobertas e ainda não conhecidas e explicadas pela ciência, já que o racionalismo considera o conhecimento milenar religoso como nada mais que um algo ainda não revelado pela ciência, um segredo por hora não desnudo e não dissecado, que cabe a ciência descobrir e eliminar a versão religiosa.
A essência e a síntese desse livro, ao meu ver, pode ser encontrada no registro bíblico sobre as relações e a tensão psicológica entre três eixos-pessoas: Balaão (Bilam), o rei moabita Balaque e Israel, o povo de Deus (Números 23). O momento central é quando a subjetividade egoísta de Balaão o faz alterar a mensagem de Deus para ser de acordo com seus interesses pessoais, dada a tentação que Balaque lhe oferecera. É o desejo de ser mais importante que o que realmente importa, é o querer acima do poder. Um egocentrismo, um antropocentrismo onde o hedonismo se revela apesar de querer se travestir.
Nilton Bonder foi formidável ao desafiar tais interesses e nos levar a conclusão na raiz do que de fato é esse tal Segredo:
O Segredo nada mais é que a má e velha cobiça enrustida e fantasiada com nome romântico de "Lei da Atração". Ou senão o desejo de manipular as coisas, pessoas e até Deus, e crer que somos racionalmente capazes de conseguir tudo o que queremos, assentados num relativismo ético não aceitando assim absolutos morais estabelecidos, haja visto que os mesmos são considerados por estes que relativizam e usam o subjetivo para se conformar e ter desculpas para desviar-se do que é certo , como inerentes a pessoas e épocas, ou ainda levam ao sentimento a famosa ideia de "os fins justificam os meios", e assim sendo buscando derrubar as barreiras que não nos deixam conseguir tudo o que desejamos e cobiçamos nessa vida. Intentos que visam um bem-estar, muitas vezes relativos, com métodos incoerentes O materialismo se subdivide em racionalismo e exoterismo. Que ironia o racionalismo, que prega ser tão contra a espiritualidade e religiosidade está assentado no mesmo fundamento que o exoterismo...o qual é tão devaneio quanto crermos dominar o mundo com nossa razão e usá-lo conforme quero. "Transvertido de oculto, o segredo é o desejo por clareza, por manifestação daquilo que é imanifesto. Essa tentação que já vestiu muitas roupagens em distintas épocas ganha hoje o estilo do consumo, dos ideais capitalistas e do individualismo", diz Bonder. Penso eu que é o sistema pagão retroalimentando o pagão sistema.

Em Cristo, o Sagrado revelado e encarnado
Jorge Tonnera Jr.
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