terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O lixo, o ano "novo" e a reciclagem

                                 Foto: site O Globo

  7 dias após show gratuito do cantor Roberto Carlos em Copacabana ter deixado 73 toneladas de resíduos, a Operação Réveillon 2010/2011 da COMLURB, retirou 610 toneladas de lixo das praias.

Com a intenção de um ano novo, pessoas foram para a praia mais famosa do Rio e se abraçaram, dançaram, pessoas com seus adereços e balangandãs beberam, comeram, mas... uma boa parte dos resíduos de suas coemmorações ficaram pelos espaços públicos como restos da vida, como o testemunho de um tempo que se foi, pois o chamado lixo, é algo inerente ao tempo, é um curto-circuito na vida, pois é matéria parada, parada no tempo. No entanto, o ano é novo, mas essa expressão da falta de respeito e da teimosia somada a falta de sensibilidade, já não é mais nova. E essa é uma questão de força de hábito, mas também muito de percepção, ou seja, como eu me vejo, como vejo a vida e as pessoas.

Para quem de vez em quando senta-se em uma praça de aliementação de shopping aqui no RJ, e tem um certo olhar atento ao entorno, já deve ter percebido que as pessoas já não mais levam suas bandejas com seus restos (papéis guradanapos, sobras de alimento, copos etc) para a lixeira. Terminam de comer e deixam as coisas em cima da mesa.

AINDA ESTAMOS FALANDO DE ANO NOVO, e os resíduos são componentes de nossa vida contemporânea. Possivelmente nesse ano de 2011 o maior Aterro de Lixo da América Latina, que fica localizado no estado do RJ, "fechará suas portas". Mas mesmo assim a vida tem que continuar, pois não paramos de ejetar resíduos de nossas vidas, principalmente a partir de nossas casas; e a vida tem que continuar inclusive para os catadores de materiais recicláveis do Aterro de J.Gramacho, que lá retiram sua sustentabilidade, ou seja, a capacidade de sustentar suas vidas e a de outras, seja a de suas famílias por intermédio do dinheiro que conseguem com a venda dos resíduos, seja a capacidade de sustentar nossa vida, por meio de manterem a roda dos resíduos funcionando através da desobstrução daquilo que não conseguimos aproveitar sendo transformados em coisas novas, diminuindo assim a pressão em cima dos serviços ecológicos que todos nós dependemos e usamos  e que geralmente não percebemos (questões de efeito estufa, qualidade de ar, de água, conservação de energia, aumento da vida útil do espaço do Aterro, extração de matéria etc).
O lixo é tudo aquilo que não mais tem como ser aproveitado de forma alguma para nada; já os materiais recicláveis são tudo aquilo que pode ser transformados, como bem disse o Catador de Material reciclável, Tião, no "Programa do Jô", para milhares de espectadores, os quais em sua maioria gostam de serem servidos, muitos dos quais são aqueles que deixam os seus resíduos de vida em cima da mesa dos shoppings e não assumem ou não imaginam, por ignorância (e ignorância significa ignorar algo), assim como os que jogaram os resíduos no chão, na praia, ou em outros "cantos" da vida.

Os resíduos, possuem um lado pedagógico muito grande, a respeito da capacidade humana criativa de transformar o passado em presente e manter um possível futuro. A vida, embora contínua seja, é cíclica, e a transformação de algo é belo, seja uma lagarta que vira borboleta até um plástico que é transformado em madeira. A vida não requer tanto asceticismo, mas com certeza necessita de cuidados fundamentais, e um deles é permitir que os ciclos da vida se movimentem e não parem. Poluição significa uma degradação da qualidade das coisas que movimentam componentes da vida e que muitas vezes alteram o ciclo da vida. Poluente  é algo no lugar errado (falando de uma maneira simples). Já Reciclagem significa manter o ciclo, manter a vida.

Que em 2011 possamos possibilitar a vida, que possamos servir à vida. Saibamos que é mais importante sustentar a vida do que ser sustentado.

Jorge Tonnera Júnior

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...