quarta-feira, 11 de maio de 2011

Rio, o filme - bem turístico e pouco educacional.

Numa floresta brasileira vários passáros exuberantes de diversas espécies são capturadas, incluindo um filhote de Ararinha-azul. Eles são levados para uma cidade dos EUA e muitos acabam sendo abandonados, dentre eles a personagem principal que é a ararinha azul que acaba sendo achada e salva por uma garota. Esta a leva para a sua casa, assumindo um compromisso de cuidar da ararinha e dá o nome de Blu para a ave. Conforme o tempo passa a garota cresce e num belo dia um cientista brasileiro acha Blu na livraria com Linda e diz para ela que a ararinha azul que ela cuida é na realidade o último macho da espécie, e que precisa levá-lo até o Rio de Janeiro, para acasalar com a última fêmea da espécie. Esse é basicamente o enredo de "Rio, o filme", que já rendeu muito sucesso de bilheteria e promoveu bem o Rio de Janeiro lá fora.


O filme é bom, possui ótimas imagens de cenários do RJ, prima pelo lado turístico sobretudo das belezas cênicas, mas poderia se aproveitar de seu lado turístico comercial de mega alcance, haja visto que superou "A Era do Gelo", para se apropriar de um tema que dificilmente entra no coração das pessoas e sensibilizá-
las: o tráfico de animais e a apropriação de aves por consumidores "admiradores" de gaiolas.

 O legal é que o filme acaba falando de liberdade e dependência não como coisas contrárias, pois enquanto Jade busca a liberdade a todo custo, Blu busca a presença e dependêcia de Linda, mas que no fim Jade acaba se apaixonando por Blu o que retrata a dependencia no amor sem com isso perder a liberdade.

O problema é que em nenhum momento do filme a personagem americana é informada que Blue é um animal que veio do tráfico. Pouco se fala do sofrimento dos animais até chegarem a seus compradores e mais ainda não se fala que a estatística de sobrevivência dos animais é que de 10 animais contrabandeados, apenas 1 consegue sobreviver até chegar ao comprador final, dadas as condições que o animal fica submetido. Até entendo que o filme é para criança e quanto a isso realmente acho que ele foi até onde poderia para mostrar para as crianças em uma linguagem leve um tema tão pesado. Mas o grande problema é que a mensagem/impressão que dá é que não são os compradores de aves que são culpados pelo tráfico
e simplesmente o pobre, o qual trafica por pura maldade.

As verdadeiras duas ararinhas azuis.
Foto divulgada no O Globo.

A Ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) possui características peculiares que a tornam vulneráveis a processoas de extinção, dentre elas em sua vida têm apenas um parceiro, formando assim um único casal de indivíduos por toda a vida, inclusive após a morte de um dos indivíduos. Fora isso os ninhos dessa ave são feitos em
árvores altas e antigas, às quais são vulneráveis ao corte indiscriminado, que com o passar dos anos logicamente por conta desse processo de consumo essas árvores vão ficando cada vez mais escassas restando apenas árvores mais jovens e pouco desenvolvidos com estatura não muito alta. Isso sem falar no fato de que diminuindo a quantidade de árvores faz com que a pluviosidade e a umidade diminua sensivelmente.
No fim da década de 80, apenas de fato um espécime ararinha-azul macho existia na natureza. Chegava a ser dramático, de tal forma que sem uma fêmea, a ararinha teve que tentar acasalar como uma ave de outra espécie próxima.
Técnicamente elas já estavam extintas pois mesmo um casal (ecologicamente falando) é um quantitativo insignificante. Daí diz-se que é uma espécie ecologicamente extinta, ou seja, a espécie ainda existe, mas a nível ecológico, ou seja, de relacionamento com outras espécies e com seu ambiente, é insignificante.

Hoje, a situação melhorou, pois sabe-se que há uma quantidade de menos de 100 indivíduos em criadouros, a maioria estrangeiro, muito embora para uma ação realmente efetiva é necessário atingir uma população mínima, ou seja, soltá-las em grupo. Ainda assim um outro contra é o fato de que sendo uma população pequena a diversidade genética é muito limitada, o que torna esse grupo mais vulnerável ainda com todo esforço.

Bem, mas vamos torcer e orar para que essa espécie seja um símbolo da sobrevivência e dos caminhos que a natureza encontra para si. Na fé do Criador e na esperança que sua imagem e semelhança consiga corrigir
alguns dos nossos erros enquanto espécie que somos.

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