domingo, 15 de maio de 2011

A fé do Homem de Preto


"Homem de Preto"?! E que fé é essa que se veste de preto? Você não o conhece? Bom, não vou me deter aqui a falar sobre trabalhos específicos no meio gospel, mas sim tentar falar um pouco dessa figura carismática e marcante, desse cara íntegro e sem rótulos e que também por isso rendeu o brilhante filme sobre sua vida: Johnny & June (Walk the Line, no original). Estou me referindo à lenda Johnny Cash, grande artista que fazia uma música que se confundia com country e rock primordial. Sua voz sepulcral em algumas de suas canções lembram-me às vezes um enterro.

Como gosto de comprar a versão deluxe (DVD duplo) de filmes que me apaixonam eu já a tempos esperava para comprar o DVD duplo desse filme "Johnny & June", pois gosto de saber sempre mais sobre aquele filme que me empolgou, ainda mais num caso como esse em que se trata de um filme biográfico. Só pra situar quem nunca assistiu "Johnny & June" o filme narra o amor entre Johnny Cash e June Carter, seu grande amor, e o ponto central do filme é justamente como um amor pode salvar um homem em colapso à beira da auto-destruição.
NO DVD extra há vários materiais que falam sobre Cash, mas uma parte específica desse DVD é o material chamado "Cash e sua Fé". O filme, que já mostrava um pouco dessa relação que Cash tinha com a fé e a religiosidade precisava realmente de um algo mais sobre esse tema, que na verdade sem ele não existiria Johnny Cash. É o que prova e mostra justamente essa parte do DVD extra, que contém comentários do único filho do casal Cash Carter, pastores, artistas e amigos pessoais.

Pois então, segundo o que assisti, o Homem de Preto em sua labuta teve contato com algo que o marcou e o tocou de alguma forma, que era a música gospel que sua mãe cantava e que por vezes servia para encarar os problemas, provavelmente sua fé em Cristo tenha suas origens aí. Diziam que Johnny sempre se referia ao evangelho e essa era a coisa mais profunda em sua vida. Cash não impunha sua fé a ninguém. Preferia contar histórias ou caso qualquer. Um dos pastores disse que Cash não se considerava um pregador, mas que no fundo ele era, pois partilhava do evangelho do seu próprio jeito através de suas experiências de vida, sobretudo através da música, a qual alcançava pessoas de vários cantos. Sua irmã disse que Johnny sempre foi desafiado em sua fé. Isso é interessante, pois de fato a fé nos causa uma certa inquietude. Cash caminhou a beira da auto-destruição devido entre outras coisas ao uso de droga. Sua mente com certeza devia ser uma luta terrível. E  mais ainda o desejo em coração de fazer sua vida valer alguma coisa. Mais ou menos como na música do U2, "I Still Haven't Found What I'm Looking For", aliás Johnny Cash participou do álbum zooropa do U2 na última canção do disco, "The Wanderer" em que canta um apocalipse.

Cash no início de carreira
Inicialmente Johnny queria ser um cantor gospel, isso se não fosse pelo Sam Phillips, da Sun Records (Sua primeira gravadora), que não queria mais artistas cantando gospel e disse que não queria um artista cantando como ele tem paz e desafiou Johnny a cantar a música de sua vida através de um questionamento: "Se um caminhão lhe atropelace e antes de morrer você pudesse cantar uma música de sua vida, o que você cantaria"?
Então Johnny cantou "Folsom Prison Blues", uma música que ele fez na época do serviço militar, e que fala da Prisão Folsom, ou seja, ele cantou uma música sobre prisão, algo que de fato representava sua vida, já que embora ele nunca tenha estado lá ela representava sua prisão interior. E sabe de uma coisa, às vezes realmente é melhor não falar de paz, mas de dor. Só um sofredor para entender um outro sofredor...

Aliás Johnny sabia que estava no mundo e nele há um monte de corrupção em que o homem se mete e se engana. Assim ele cantava uma música gospel e imendava "Cocaine Blues", uma música que ele canta como se ele fosse o usuário de cocaína que matou uma mulher. Isso é ser íntegro, convícto e sem ter que sustentar uma imagem de politicamente correto para agradar a uns e outros. Cash realmente usou a vocação que Deus o deu. Através da música ele conseguia se ligar com diversas pessoas, algo meio libertário, pois suas canções falavam de coisas da vida, da gente sozinha, dos pobres, dos oprimidos ou de um caso de romance. Johnny atraia pessoas e assim compartilhava histórias. Atraia pessoas seja uma mãe com um filho no corredor da morte a uma criança pedindo para arrancar um dentinho.

Johnny tinha o "dom" de substimar-se e tratar a si como algo não importante para si mesmo como se ele fosse menor que outros e se igualar  aos mais baixos, aos sofredores, aos perdidos e perdedores. Ele que era chamado de "Homem de Preto" por se apresentar sempre de roupas pretas tinha isso como um significado pessoal o qual inclusive é explicíto na canção "Man in Black" (Homem de Preto):

 "I wear the black for the poor and the beaten down, / Livin' in the hopeless, hungry side of town, / I wear it for the prisoner who has long paid for his crime, / But is there because he's a victim of the times" ("Eu me visto de preto pelos pobres e oprimidos/ Que vivem no lado faminto e sem esperanças da cidade / Eu me visto assim pelo prisioneiro que há muito pagou por seu crime / Mas está ali pois é uma vítima dos tempos").

A cor da roupa era sua identificação pessoal com o fato de haver dores e sofrimento no mundo. Johnny dizia que se um dia o mundo não tivesse mais dor e sofrimento ele deixaria de usar o preto. Ao ser indagado, questionado ou ridicularizado sobre vestir-se de preto ao perguntarem a ele se ele ia a um enterro, Johnny era enfático ao responder: "Talvez eu vá"...

Os presidiários se identificavam com Johnny devido a suas canções e Johnny se identificava com eles devido a vivenciar uma prisão emocional. No filme mostra bem que as cartas dos presidiários fizeram com que ele percebesse que era querido por um grupo de pessoas excluídas e problemáticas e isso o incentivou a retomar a carreira e daí ele decidiu fazer um show para os detentos na prisão Folsom e gravá-lo em um disco. Algo que incomodou e inicialmente foi rejeitado pelos empresários de gravadora e não quiseram gravar esse álbum, pois seu público era de pessoas cristãs, pessoas de bem que não gostariam disso. Rejeitando essa hipocrisia o filme mostra que Johnny sutilmente satiriza e rebate dizendo que se as pessoas não comprarem o disco por ter sido gravado em um show para presidiários então essas pessoas não são cristãs.

No final das contas "Johnny & June" se trata de uma biografia pequena de um trecho da vida de Cash, mas muito mais que isto, trata de salvação...
Cash e Carter
Com a ajuda da esposa e influenciado por uma conversão religiosa alcançada
Johnny teve uma experiência com Deus e sentiu-se livre. Segundo seu filho, Johnny  Cash gostaria de ser lembrado como um homem de Deus, antes mesmo de cantor.
Ele recordaria mais tarde que durante uma operação Cash passou por uma experiência "próxima da morte". Cash disse que teve visões celestes tão belas que ficou com raiva quando acordou e percebeu que estava vivo.
Poucas semanas antes da sua morte Cash disse que mal podia esperar para estar no céu, para ver June, sua esposa (que morreu 4 meses antes dele) e Jack (seu irmão que morreu na infância e sempre permaneceu no seu pensamento) e outros, mas sobretudo pra ver Jesus.
A uma semana da sua morte estando sua irmã no quarto com ele, perguntou: " Se visse Jesus vir em sua direção, o que acha que Ele te diria? Johnny respondeu chorando: Isso é fácil! Ele diria "Vinde a mim os que labutam e os sobrecarregados e lhes darei descanso. Deixem que os guie e aprendam de mim a humildade e a doçura de coração e encontrarão o descanso para suas almas".
Cash em um dos seus últimos trabalhos musicais.


Por Jorge Tonnera Júnior
, em Cristo. Vem Jesus!

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