terça-feira, 2 de outubro de 2012

Eric Hobsbawm: o historiador que sabia pedalar


Como amante de bicicletas e ciclista há algum tempo, cada vez entra em minhas veias a questão da mobilidade urbana, inclusive pela própria condição atual de vida minha enquanto carioca usuário de transporte público numa cidade cheia de pessoas e de carros, compartilho essa jóia relacionada ao historiador Eric Hobsbawm, que morreu nessa semana.


Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/514176-eric-hobsbawm-o-historiador-que-
sabia-pedalar

Eric Hobsbawm: o historiador que sabia pedalar

O historiador Eric Hobsbawm, que morreu nesta segunda-feira (1º) em Londres,
aos 95 anos, era um entusiasta da bicicleta. O comentário é de Alexandre Costa
Nascimento em artigo na Gazeta do Povo, 01-10-2012.
Eis o artigo.

Uma das mentes mais influentes de seu tempo, Hobsbawm, durante a juventude, fez
uma viagem de bicicleta com seu primo Ronnie explorarando o sul da Inglaterra e
o norte do País de Gales.
Em um trecho do livro Tempos interessantes: uma vida no século XX, o
historiador classifica a bicicleta como um dos instrumentos mais importantes da
história, compararável à prensa de Gutenberg.
Segundo ele, o veículo de duas rodas é o único sem desvantagens óbvias e que
oferece a plena realização das possibilidades de ser humano.
O intelectual, que usou os princípios do marxismo para explicar o mundo atual,
publicou seu último livro em 2011, sob o título Como mudar o mundo. Entre suas
obras mais destacadas, que influenciaram gerações de historiadores, estão Era
dos Extremos: o Breve Século XX: 1914 - 1991 e Globalização, Democracia e
Terrorismo.
Leia o trecho em que o historiador relata sua visão sobre a bicicleta:
Até mesmo a forma de transporte que nos libertou era barata, pois nós, ou
nossos pais, seguimos o conselho dos anúncios na traseira dos ônibus londrinos
de dois andares: 'Desça desse ônibus. Ele jamais será seu. Compre uma bicicleta
por dois pence por dia'.
Com efeito, com poucas prestações semanais podia-se comprar a bicicleta – no
meu caso uma brilhante Rudge-Whitworth, que custava mais ou menos cinco ou seis
libras. Se a mobilidade física é condição essencial da liberdade, a bicicleta
talvez tenha sido o instrumento singular mais importante, desde Gutenberg, para
atingir o que Marx chamou de plena realização das possibilidades de ser humano,
e o único sem desvantagens óbvias.
Como os ciclistas se deslocam à velocidade das reações humanas e não estão
isolados da luz, do ar, dos sons e aromas naturais por trás de pára-brisas de
vidro, na década de 30, antes da explosão do tráfego motorizado, não havia
melhor maneira de explorar um país de dimensões médias com paisagens tão
surpreendentemente variadas e belas.
Com a bicicleta, uma tenda, um fogareiro a gás e a novidade da barra de
chocolate Mars, explorei com meu primo Ronnie (que a pronunciava “Marr”, como
se fosse em francês) grande parte das belezas civilizadas do sul da Inglaterra,
e, numa memorável excursão de inverno, também as mais selvagens do norte do
País de Gales.
(HOBSBAWM, E. Tempos interessantes: uma vida no século XX. ISBN 85-359-0300- 3.
S.Paulo: Companhia das Letras, 2002. pp. 107-108)
 


Bicicleta modelo Rudge-Whitworth, semelhante a usada por Hobsbawm para pedalar

pela Inglaterra. Na época modelo custava o equivalente a R$ 20.

Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/514176-eric-hobsbawm-o-historiador-que-
sabia-pedalar

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