terça-feira, 28 de agosto de 2012

Em que medida você apoia a guerra?

Hoje pela manhã li um excelente texto no blog Habitat do site do Yahoo. Replico ele abaixo. Parabéns a autora Tatiana Achcar pela visão, e capacidade de compreender essa noção de produção, co-criação e socialização...isso me faz sempre pensar no mandato cultural de Deus ao homem no Genesis (Bíblia), em que o Eterno coloca o homem no jardim para desenvolver a vida como um todo. E ainda quando Jesus ressucita e o evangelho de João nos dá margem a imaginar que ele estava lavrando a terra no horto junto ao sepulcro, conforme escrevi no texto que escrevi chamado "Páscoa: a história de um relacionamento. Da libertação a identidade". , postado aqui no blog.


Em que medida você apoia a guerra?Por Tatiana Achcar | Habitat – qui, 9 de ago de 2012.. .
http://br.noticias.yahoo.com/blogs/habitat/em-que-medida-você-apoia-guerra-000316339.html#more-id
Mentes bélicas acreditam que a guerra é uma ocupação natural do homem. A agricultura também é uma ocupação natural do homem. São opostos? Agricultura industrial é um tipo de guerra, derruba floresta, rouba terra dos pobres, contamina solo, ar e água, explora trabalhadores, usa pesticidas oriundos de armas químicas das guerras mundiais. No entanto, cultivar alimentos representa um espectro de atividade humana muito maior do que a guerra e muito mais antigo do que uma ação autolegitimada pelo Estado. Ela vem antes mesmo do nascimento das cidades-estado. Cultivar alimentos pode ser a antítese da guerra, a cura para as doenças sociais, a melhora de um mundo dividido em caixinhas e fronteiras? Quando você cuida de seus tomates, você está produzindo mais que tomates? Quanto mais?

Muita gente deseja superar as guerras do nosso tempo de maneira indireta, por meio de jardins e hortas. Eles estão na frente e no centro da esperança e dos sonhos por um mundo melhor, ou um bairro melhor, ou o espaço fértil onde os dois tornam-se um. Existem ativistas e apoiadores de um novo sistema alimentar, pequenos hortelões, grandes agricultores orgânicos e um monte de gente interessada e praticante da agricultura feita nas cidades. Esses projetos urbanos querem romper com a alienação do sistema alimentar, do trabalho, da inclusão e do uso da terra, com os conflitos entre produção e consumo, prazer e trabalho, com a ação destruidora da agricultura industrial e com os problemas crescentes da escassez de comida e da perda de sementes.

Em São Paulo, um grupo de hortelões urbanos juntou a fome com a vontade de comer. Muniu-se de enxadas, pás, restos de coisas úteis (pallets, papelão), mudas e sementes e foi pro front. A missão: fazer uma horta comunitária na praça das Corujas, na Vila Beatriz, um lugar que ficou abandonado por anos e foi recuperado há pouco. Nem tão antigamente esse canto era conhecido como Fazendinha pela vocação rural que o antigo morador dava ao lugar.

A praça das Corujas é a primeira praça da cidade com uma composteira de jardim, onde folhas e galhos viram adubo para a horta. Bingo! É também uma das poucas (senão a única) praça da região que tem um córrego descoberto, coisa rara nas bandas ricas da cidade. É bom ver água corrente! A sub prefeitura de Pinheiros deu aval para a intervenção, vai oferecer mão de obra para cercar a área dos canteiros e outras cossitas más. Faz dois domingos que a turma se reúne lá para sujar mão, pé e o que for preciso. Descobrimos uma área alagada ao lado das bananeiras que vai servir para regar a horta. Bingo! Cavar buraco, acomodar a caixa d'água e cobrir com filtros foi uma das tarefas do último encontro. Logo mais haverá um reservatório de água. Ali, as aparentes dicotomias se misturam e os ideais que plantamos, cultivamos e colhemos é sem fim.

De que canteiro você tem cuidado? O que você quer cultivar? Esperança, saúde, prazer, justiça, comunidade? As hortas e jardins representam a utopia possível da nossa época, mas também são uma armadilha. Uma horta pode ser tanto o solo que você permanece para se comprometer com o mundo ou a maneira como você se retira dele. E a diferença não é sempre óbvia.
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