sábado, 5 de novembro de 2011

Steve Jobs e a geração consumista que chora. Ecologia e sociologia de um luto.


Passado vários dias da morte de Jobs ainda se ouve burburinhos, comentários e citações dele e sobre ele.
Lembro-me que quando da sua morte percebi o alvoroço e declarações de lamento no facebook que me causaram uma certa estranheza.

Por que tantas pessoas, sendo muitas que realmente conheciam o trabalho de Steve Jobs, e outras muitas das quais nem sequer sabiam bem quem era Steve Jobs, ambas lamentavam nas redes sociais sua morte? Em parte me pareceu coisa do tipo "E agora quem fará mais coisas assim para nós?". E em outra parte me pareceu um "q" de "quero parecer interessante". 

Qual foi o legado de fato e será que esse legado era suficiente para tanto lamento? Tudo bem duvido para mim.


É evidente que qualquer perda de uma vida deveria ser lamentado. Mas sabemos que na prática isso é um tanto obscuro. Então pensei se talvez os órfãos de Steve Jobs sejam a juventude ávida por consumo. Particularmente por consumir tecnologias, e tecnologias estas que ocupam a vida e dão posição de destaque na sociedade.

Isso explica, pelo menos no mínimo em parte, também o porquê se falou pouco nesse meio tempo de coisas mais importantes como as milhares de pessoas que vão morrendo, perecendo pela fome e seca, especialmente na África. Poderia citar também outras realidades, mas o caso da África cai nessa história como uma perfeita ironia da vida e da morte, pois diga-se de passagem a África é o destino final de milhares de toneladas de lixo eletrônico, dentre os quais vários produtos de Steve Jobs/ Apple, e que acabam se tornando fatores de risco ambiental e assim consequentemente de saúde e portanto de morte. E aí vemos a tal ironia bizarra. Um morre e é lembrado pela tecnologia; vários morrem por conta dessa tecnologia e ninguém se lembra. 

Não sou contra tecnologia. Muito pelo contrário. Eu gosto e uso. Se assim não fosse não estaria usando o meio em que aqui escrevo e se não fosse como homens que criam tecnologia jamais poderia eu interagir através deste blog. No entanto sou contra os excessos e posições que estas coisas acessórias ocupam muitas vezes. Além disso, é sabido que a obsolecência planejada, que consiste na capacidade das empresas como a Apple planejarem o tempo de vida útil curto e programado de seus produtos a fim de posterior descarte e novo consumo em tempo curto, bem como o obsolescência perceptiva, entendida esta como o senso comum que induz ao consumo pelo marketing da aparência, do status, e do desejo (Afinal a maçã já foi mordida...) são grandes técnicas de consumismo e geração de lixo e consequente prejuízo emocional, social, econômico e ambiental.

Segue abaixo uma cronicazinha que mostra um pouco o alcance da notícia e o pouco que se sabe do tanto de informação e as "Marias-vão-com-as-outras" que replicam tais informações que parecem dar destaque ao ego e ao pertencimento capitalista.
"Dois amigos conversavam por volta das dez da manhã de quinta-feira (6) em um ônibus da linha 239, que liga o bairro de Água Santa ao Castelo, no centro da cidade. 
Um deles puxa o assunto da morte do Steve Jobs:

 - Você viu que o Steve Jobs morreu?

O outro diz:

 - E ele acabou de fazer um show no Rock in Rio...

O primeiro colega que havia iniciado o assunto responde:

 - Não, seu animal! Esse é o Steve Wonder. Quem morreu foi o Steve Jobs...o cara do Google! 
E o mesmo completa:
- Burro pra c#%@$&*!


Também vale a pena ler um ótimo texto de título Steve Jobs, o i God, sobre tudo isso que ocorreu de maneira bem mais profunda e crítica do que esse meu singelo texto. Veja no link:
http://ocontornodasombra.blogspot.com/2011/10/steve-jobs-o-igod.html

Jorge Tonnera Jr.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...