quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O evangelho da paz da sustentabilidade de Genesis e de Wangari Muta maathai.

Seis mil anos se passam e uma árvore como o Baobá, árvore africana mais famosa, pode continuar de pé. Ela é um símbolo de sustentabilidade, enquanto ser que continua e se mantém ao manter também outros seres. O baobá é considerada a árvore da vida por comunidades africanas. Importância única para tribos inteiras as árvores de uma maneira geral, sejam elas quais forem (baobás, cerejeiras, oliveiras etc) são uns dos símbolos fundamentais das culturas arcaicas. Tão arcaico esse fato que nos remete ao início de tudo, segundo o livro primário da Bíblia, o Gêneses. A bem da Verdade Geneses não é de longe o único relato da criação e nem da centralidade da figura da árvore na criação do mundo. A mitologia nórdica e a yorubá tem suas respectivas histórias em que a árvore tem um destaque no processo de criação da vida. Uma dessas conta que da criação "para cada ser humano modelado (a matéria primordial era o barro) por Orisala criava-se simultaneamente uma árvore". Isso é muito interessante, embora a ideia talvez não seja a mesma, se parármos para analisar isso é algo que tem sua coerência ao talvez nos dizer: Cada ser humano para viver precisaria de pelo menos uma árvore. E de fato haja visto os serviços ecológicos que uma simples árvore nos ofrerece (umidade, temperatura, proteção do solo, produção de alimento e insumos, bem como medicamentos, captação de água, absorção de gás carbono, habitação de outras espécies etc), mas Genesis retrata de uma maneira que nos redireciona para a identidade do ser humano, inclusive em relação ao todo. Que o destino do comum (no sentido de vivência mutua) está diretamente ligado ao destino do homem. De acordo com o relato da narrativa dos hebreus, povo que tem em sua história dramática o deserto e parca distribuição de água e recursos em sua trajetória a Terra Prometida, a qual prefiguraria a Jesus Cristo (a verdadeira promessa e lugar de descanso e de vida eterna), Javé, o Deus Criador, após emergir a matéria inorgânica produz uma massa viva e orgânica e estabelece um horto ou um jardim como muitos preferem (EM um sentido mais completo um ecossistema altamente diverso), e resolve colocar um ser que estabelecera para ser sua imagem e semelhança, assim sendo um potencializador de vida. Segundo Genesis o Criador o põe em meio ao ecossistema jardim-horto no Éden. Em Éden havia bastante árvores as quais serviriam de alimento, uma vez que a alimentação vegetariana era a forma original de obtenção de recursos biológicos alimentares. No entanto, é em uma árvore especial que possui atributos de potencializar o conhecimento humano sobre si e torna-se conhecedor tal como a Deus, o homem resolve tomar para si o fruto desta e sua vida se torna um conflito constante para se reconhecer como alguém que prefigura um Salvador ao mesmo tempo em que não consegue se salvar e viver em conjunto do outro semelhante em meio a um mesmo ambiente/mundo em constante mudanças.
A história de Genesis é notória, uma das mais conhecidas, no entanto das mais ridicularizadas pela secularidade racionalista e cartesiana, que não encherga o mundo na essência das relações vitais. Os conflitos internos e externos do ser humano são originários dentro desse quadro. Nossos conflitos conosco e com nosso semelhante, bem como o todo do qual todos nós formamos e somos formados e fazemos parte (meio ambiente) estão a partir daí. E, a biografia de uma mulher contemporânea da gente, chamada Wangari Muta Maathai torna a história de Genesis altamente relevante, cheia de verdade e sentido.
Wangari Maathai é o exemplo de como nossa identidade de imagem e semelhança de Deus atribuida a nós pelo próprio Deus Javé e relatada em Genesis pode ser verificável através da experiência única da comunhão, através dos relacionamentos, uma vez que Deus é "una comum" entre ser Pai, ser Filho e Vivificador (Espírito Santo), é uma comunidade viva e pessoal que procede vida da vida. E pode ser verificável através da nossa capacidade de reconciliação a partir das relações intra e extra nós.
Wangari Maathai em seu contexto social desfavorável em relação a recursos e distribuição desses, em busca de melhorias na qualidade de vida das pessoas logo expandiu suas ideias de equilíbrio e restauração ambiental por meio de plantio e replantio para um projeto de democracia e paz. Ficou claro que não haveria paz e democracia sem um espaço mais sustentável e um gerenciamento responsavel do ambiente era impossivel sem democracia e paz. É aí que entra a árvore em termos de símbolo de vida e de paz nessa história. Para Wangari, enquanto mulher ficava claro que o gênero feminino era o primeiro a identificar mazelas ao passo que também era o primeiro a sentir os problemas. Dado o conhecimento de que as árvores através dos seus serviços que levam a questão da divisão dos interesses diversos das pessoas e empresas e governo. Wangari viu através das experiências de disputas dentro de espaços que os problemas são um só. Os problemas sociais, econômicos e ambientais nada mais são que facetas distintas de um único problema. Bem coerente com o que Jesus se propunha a trabalhar em sua rota viva até as pessoas, indo nas suas necessidades estabelecendo um contato direto com a vida como um todo em seu contexto de pessoas oprimidas. A partir de 1977, toda essa vivência resultou no plantio e replantio de cerca de 47 milhões de árvores no país. ISso trouxe um certo sentido de empoderamento e de comunidade. Como ferramenta de resolução de problemas e dificuldades de recursos, bem como disputa desses Wangari propôs que por meio desses plantios e replantios bem como seus planos de manejos os camponeses deveriam proteger as bacias hidrográficas e estabilizar o solo. Com isso haveria benefícios diretos e indiretos como melhora da agricultura, recuperação de solos contra erosão, manutenção de rios e lençóis freáticos. Num espaço de terra em que um rio comece numa terra de uma pessoa e passe pela terra de outra, o que acontece quando o rio seca terra acima? Como a pessoa da terra de baixo fica, ou que acontece quando a terra de baixo seca e a terra de cima continua com o rio? Surge um conflito?  Na África as árvores são um símbolo de paz. Ainda se encontra na África em certas comunidades a antiga tradição de plantar uma árvore como forma de sinalizar uma reconciliação por conta de um conflito. Foi esta herança cultural que inspirou Wangari Maathai. Prova de que não há cultura que sobreviva sem uma relação harmonioza seja entre pessoas ou ecossistemas. E assim Wangari Maathai ficou internacionalmente conhecida quando recebeu o prêmio Nobel da Paz, em 2004. Em síntese Wangari conseguiu estabelecer paz entre diversos lugares por meio do simples plantar. "Deus colocou o homem num jardium para cuidar e guardar", a identidade do homem como imagem e semelhança de Deus é relacionada a esse trabalho de cuidar da vida e procriá-la.


Voltando ao Genesis, havia uma outra árvore que era a mais importante de todas. Esta Àrvore reaparece no último livro bíblico, o Apocalipse simbolizando um retorno do ser humano ao seu estado de paz de relacionamento, de dependência, e também inclusive de liberdade e autonomia não como sinônimo de independência, mas como agente potencializador de sustentabilidade da vida. O princípio mais importante relacionado à Árvore da Vida é o de dependência, e isso é verificável quando se lê em João 15:5: “eu sou a videira verdadeira, vós os ramos, quem está mim, e eu nele, esse dá muito fruto, porque sem mim nada podeis fazer”. A Árvore da Vida tipificava Jesus Cristo, enquanto o responsável por todos os relacionamentos. Quem nele está enxerto, quem busca amar a Deus e seu semelhante busca a paz por meio dos relacionamentos, a começar com o próprio criador, com si mesmo, com o próximo e com outras criaturas imerso em um mesmo espaço de vida (meio ambiente).


 Só através do ensino do amor,de Jesus, sua lição de vida e morte, pode nos reabilitar a viver. Assim, a Àrvore da Vida/ Jesus Cristo é o símbolo do próprio Deus como fonte de vida (João 20:30-31). Ou seja, sem Deus não há vida, sem Deus as relações vão se rompendo, sem vida não há relacionamento e nosso Criador deseja ser a nossa vida em forma de alimento, cujo fruto é o amor, única fonte de reconciliação.

Até quando conseguiremos viver como vivemos hoje brigados? Quando vier uma chuva forte na casa de quem vamos nos esconder? De baixo de qual árvore, ou ainda na árvore de quem? Em essência isso é evangelho. O evangelho de Jesus em Maathai...
A sustentabilidade nos oferece a grande arma pedagógica que existe, a qual Jesus utilizou como ninguém: o questionamento. Particularmente através da pergunta. E A grande pergunta que a sustentabilidade nos faz é: ATÉ QUANDO PODEREMOS VIVER DA MANEIRA QUE VIVEMOS HOJE? A vida é feita de e nas relações. Sejam quais forem os níveis disso, o entorno nos está diretamento relacionado as maneiras que escolhemos viver. Em nosso meio, entorno, temos uma fonte de serviços que influenciam diretamente e indiretamente nossa vida: as árvores. Elas são expressão do amor do Deus vivo, Javé, são expressão da nossa identidade e expressão de relacionamento. Descobrir como elas harmonizam e equilibram nossa relação com outros de nossa espécie e com os de outras espécies através de seus serviços ecológicos é um exercício de paz.

Enxertado pela vida, vivo e querendo paz para todos,
Jorge Tonnera Jr.



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Tenho uma ligeira impressão de que a famosa Árvore da Vida do jardim do Eden seja de fato o Baobá. rss

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