A história de Genesis é notória, uma das mais conhecidas, no entanto das mais ridicularizadas pela secularidade racionalista e cartesiana, que não encherga o mundo na essência das relações vitais. Os conflitos internos e externos do ser humano são originários dentro desse quadro. Nossos conflitos conosco e com nosso semelhante, bem como o todo do qual todos nós formamos e somos formados e fazemos parte (meio ambiente) estão a partir daí. E, a biografia de uma mulher contemporânea da gente, chamada Wangari Muta Maathai torna a história de Genesis altamente relevante, cheia de verdade e sentido.
Wangari Maathai é o exemplo de como nossa identidade de imagem e semelhança de Deus atribuida a nós pelo próprio Deus Javé e relatada em Genesis pode ser verificável através da experiência única da comunhão, através dos relacionamentos, uma vez que Deus é "una comum" entre ser Pai, ser Filho e Vivificador (Espírito Santo), é uma comunidade viva e pessoal que procede vida da vida. E pode ser verificável através da nossa capacidade de reconciliação a partir das relações intra e extra nós.
Wangari Maathai em seu contexto social desfavorável em relação a recursos e distribuição desses, em busca de melhorias na qualidade de vida das pessoas logo expandiu suas ideias de equilíbrio e restauração ambiental por meio de plantio e replantio para um projeto de democracia e paz. Ficou claro que não haveria paz e democracia sem um espaço mais sustentável e um gerenciamento responsavel do ambiente era impossivel sem democracia e paz. É aí que entra a árvore em termos de símbolo de vida e de paz nessa história. Para Wangari, enquanto mulher ficava claro que o gênero feminino era o primeiro a identificar mazelas ao passo que também era o primeiro a sentir os problemas. Dado o conhecimento de que as árvores através dos seus serviços que levam a questão da divisão dos interesses diversos das pessoas e empresas e governo. Wangari viu através das experiências de disputas dentro de espaços que os problemas são um só. Os problemas sociais, econômicos e ambientais nada mais são que facetas distintas de um único problema. Bem coerente com o que Jesus se propunha a trabalhar em sua rota viva até as pessoas, indo nas suas necessidades estabelecendo um contato direto com a vida como um todo em seu contexto de pessoas oprimidas. A partir de 1977, toda essa vivência resultou no plantio e replantio de cerca de 47 milhões de árvores no país. ISso trouxe um certo sentido de empoderamento e de comunidade. Como ferramenta de resolução de problemas e dificuldades de recursos, bem como disputa desses Wangari propôs que por meio desses plantios e replantios bem como seus planos de manejos os camponeses deveriam proteger as bacias hidrográficas e estabilizar o solo. Com isso haveria benefícios diretos e indiretos como melhora da agricultura, recuperação de solos contra erosão, manutenção de rios e lençóis freáticos. Num espaço de terra em que um rio comece numa terra de uma pessoa e passe pela terra de outra, o que acontece quando o rio seca terra acima? Como a pessoa da terra de baixo fica, ou que acontece quando a terra de baixo seca e a terra de cima continua com o rio? Surge um conflito? Na África as árvores são um símbolo de paz. Ainda se encontra na África em certas comunidades a antiga tradição de plantar uma árvore como forma de sinalizar uma reconciliação por conta de um conflito. Foi esta herança cultural que inspirou Wangari Maathai. Prova de que não há cultura que sobreviva sem uma relação harmonioza seja entre pessoas ou ecossistemas. E assim Wangari Maathai ficou internacionalmente conhecida quando recebeu o prêmio Nobel da Paz, em 2004. Em síntese Wangari conseguiu estabelecer paz entre diversos lugares por meio do simples plantar. "Deus colocou o homem num jardium para cuidar e guardar", a identidade do homem como imagem e semelhança de Deus é relacionada a esse trabalho de cuidar da vida e procriá-la.
Voltando ao Genesis, havia uma outra árvore que era a mais importante de todas. Esta Àrvore reaparece no último livro bíblico, o Apocalipse simbolizando um retorno do ser humano ao seu estado de paz de relacionamento, de dependência, e também inclusive de liberdade e autonomia não como sinônimo de independência, mas como agente potencializador de sustentabilidade da vida. O princípio mais importante relacionado à Árvore da Vida é o de dependência, e isso é verificável quando se lê em João 15:5: “eu sou a videira verdadeira, vós os ramos, quem está mim, e eu nele, esse dá muito fruto, porque sem mim nada podeis fazer”. A Árvore da Vida tipificava Jesus Cristo, enquanto o responsável por todos os relacionamentos. Quem nele está enxerto, quem busca amar a Deus e seu semelhante busca a paz por meio dos relacionamentos, a começar com o próprio criador, com si mesmo, com o próximo e com outras criaturas imerso em um mesmo espaço de vida (meio ambiente).
Até quando conseguiremos viver como vivemos hoje brigados? Quando vier uma chuva forte na casa de quem vamos nos esconder? De baixo de qual árvore, ou ainda na árvore de quem? Em essência isso é evangelho. O evangelho de Jesus em Maathai...
A sustentabilidade nos oferece a grande arma pedagógica que existe, a qual Jesus utilizou como ninguém: o questionamento. Particularmente através da pergunta. E A grande pergunta que a sustentabilidade nos faz é: ATÉ QUANDO PODEREMOS VIVER DA MANEIRA QUE VIVEMOS HOJE? A vida é feita de e nas relações. Sejam quais forem os níveis disso, o entorno nos está diretamento relacionado as maneiras que escolhemos viver. Em nosso meio, entorno, temos uma fonte de serviços que influenciam diretamente e indiretamente nossa vida: as árvores. Elas são expressão do amor do Deus vivo, Javé, são expressão da nossa identidade e expressão de relacionamento. Descobrir como elas harmonizam e equilibram nossa relação com outros de nossa espécie e com os de outras espécies através de seus serviços ecológicos é um exercício de paz.
Enxertado pela vida, vivo e querendo paz para todos,
Jorge Tonnera Jr.
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Tenho uma ligeira impressão de que a famosa Árvore da Vida do jardim do Eden seja de fato o Baobá. rss
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