segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Será que Stalin tinha razão?

17/08/2010 - 11h08
Será que Stalin tinha razão?

Por Reginaldo Nasser*
 
Nada mais justos do que os protestos internacionais no caso da iraniana 
Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento. O caso não é 
único. No Iraque, um país sob ocupação dos EUA, foram assassinadas (“assassinatos pela honra”), 
somente em Bagda, 133 mulheres em 2007. Devemos olhar para outros registros também. Calcula-se que a
invasão dos EUA já deixou mais de um milhão de iraquianos mortos. Em que termos deve ser colocado o 
debate sobre direitos humanos? Será preciso dar razão a Stalin quando disse que “a morte de 
uma pessoa é 
uma tragédia; a de milhões, uma estatística”? 

O caso da iraniana, Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento, tem despertado a
atenção da mídia internacional e já causou protestos em vários países. Nada mais justo! Mãe de duas 
crianças, já recebeu 99 chibatadas por ter mantido um “relacionamento ilícito” com um homem acusado de
assassinar seu marido. Além disso, há indícios de que tenha sido torturada. O Irã é um dos paises onde mais 
têm ocorrido execuções (388) no mundo com um aumento significativo após a fraude eleitoral, mas não é 
caso único. Segundo estimativas da Anistia Internacional aproximadamente 714 pessoas foram executadas 
em 2009. (Iraque, 120; Arábia Saudita, 69; EUA, 52; Yemen, 30. A China não fornece nenhum tipo de 
informação, provavelmente foram milhares). Houve repercussão? Ou o problema maior é o apedrejamento
num pais inimigo?

No Iraque, um país sob ocupação dos EUA, foram assassinadas (“assassinatos pela honra”), somente em 
Bagda, 133 mulheres em 2007. Mas, devemos olhar para outros registros também. Numa pesquisa realizada 
pelo conceituado jornal médico The Lancet, estima-se que mais de 600 mil iraquianos foram mortos como 
resultado da invasão dos EUA até 2006. Calcula-se que já está em torno de mais de um milhão de Iraquianos 
mortos de acordo com a Opinion Research Business (conceituada agência britânica de pesquisa). A grande
imprensa não deu o devido destaque, mas há uma discussão no Congresso dos EUA sobre a possibilidade 
de cortar a ajuda humanitária às vítimas civis de ataques das forças americanas.

Nesse mês de agosto, em que o tema dos Direitos Humanos passou a ser ventilado por todos, inclusive pelo
Jornal Nacional que questionou a candidata do PT, deveríamos aproveitar a ocasião das “celebrações” e
relembrar o que aconteceu há exatamente 65 anos para podermos compreender como as potências mundiais
se preocupam com os direitos humanos.

O então presidente dos EUA Harry Truman foi um dos maiores entusiastas da Declaração Universal dos 
Direitos humanos aprovada na ONU em Dezembro de 1948. (Será preciso lembrar a condição de 
desrespeito aos direitos humanos dos negros nos EUA?) Isso mesmo, 3 anos após ( Agosto de 1945) ter 
autorizado o lançamento das bombas nucleares que causou a morte imediata de 200 mil pessoas e 
aproximadamente 100 mil feridos com o objetivo “humanitário” de "salvar milhões de vidas", proporcionando
um fim rápido para a guerra.

Para além das questões morais envolvidas, foi necessário o ataque nuclear? O Japão já havia sido derrotado
militarmente. Contra a defesa área e marítima japonesa praticamente aniquiladas, os bombardeiros dos EUA 
promoviam uma verdadeira devastação em suas cidades. Na noite de 10 março de 1945, uma onda de 
300 bombardeiros americanos atingiu Tóquio, matando 100 mil pessoas e queimando 35 % das residências. 
Um milhão de moradores foram desalojados. A comida tinha-se tornado tão escassa que a maioria dos
japoneses sobreviviam com uma dieta de fome. No dia 23 de maio ocorreu a maior incursão aérea da 
Guerra do Pacífico, quando foram lançadas 10 mil toneladas de bombas incendiárias em Tóquio e outras 
grandes cidades (veja esse relato no Filme: A Nevoa da Guerra).

De acordo com comandante da força aérea americana, LeMay, o objetivo dos bombardeiros americanos 
era conduzir os japoneses “de volta à idade da pedra". Mas o mesmo general disse que "A bomba atômica
não tinha nada a ver com o fim da guerra." Hoje, há farta documentação mostrando que os japoneses, em 
meados de abril de 1945, estavam oferecendo termos de rendição praticamente idênticos aqueles que foram
aceito pelos norte-americanos em setembro (ver a excelente pesquisa histórica sobre essa questão no The 
Journal of Historical Review, May-June 1997, Vol. 16, No.3).

Em que termos deve ser colocado o debate sobre direitos humanos? Se a tortura e a pena de morte devem
ser repudiadas, independentemente das circunstâncias, a questão dos meios e sua efetividade são irrelevantes? 
Por que condenar a tortura e silenciar sobre atos de “guerra”? Por exemplo, os bombardeios, que se sabe
previamente que causam dano à vida humana, dado o seu alto poder destrutivo, são justificáveis para a
segurança e a defesa nacional? Para o mainstream as operações militares, em que morrem ou resultam feridos
civis, não podem ser qualificados imediatamente como crimes, sempre que seu objetivo não seja infligir 
“deliberadamente” o individuo indefeso.

Será preciso dar razão a Stalin quando disse que “A morte de uma pessoa é uma 
tragédia; a de milhões, uma
 estatística”?

*Professor de Relações Internacionais da PUC-SP



Ilustração: Junião - http://www.juniao.com.br



(Envolverde/Carta Maior )

 

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